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Judas, Convencido, mas não Convertido

Jesus.

Quando a verdade não converte o coração, ela o endurece.

Denis Versiani

“Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham os escândalos, mas ai do homem pelo qual vem o escândalo” (Mateus 18:7)! A história de Judas Iscariotes apresenta o triste fim de uma vida que poderia ser honrada por Deus. Um homem talentoso, com um potencial tremendo, mas que amou mais a corrupção e a sua sabedoria do que ao seu Mestre. Que glorioso futuro era sonhado por Deus para esse homem que transformou a sua história em escândalo.

O nome Judas tem sua raiz no nome de Judá, filho de Jacó, e significa “louvado”, “abençoado”. Judas Iscariotes se uniu ao grupo de discípulos quando as multidões seguiam a Cristo. Muito provavelmente, Judas havia assistido Jesus pregar nas sinagogas, às margens do Mar da Galileia, e seus ensinos tocavam o seu coração. Isso fez com que ele desejasse estar ao lado do Mestre. E Jesus não o repeliu. À medida que andava com Jesus, vendo o modo como ele tratava a todos, ouvindo suas palavras de amor, testemunhando os seus milagres, Judas se convenceu que o ministério de Jesus era algo superior a qualquer coisa que ele já havia visto.

Judas tomou o seu lugar no grupo dos doze amigos mais próximos de Jesus, e realizou um ministério evangelístico muito bem sucedido. Ele era respeitado e admirado entre os discípulos por ser um homem diferenciado. Se esses talentos fossem aproveitados para a obra de Cristo, Judas provavelmente seria um evangelista do calibre de Paulo.

Porém, Jesus via a batalha no coração de Judas. A batalha entre o seu orgulho e o seu serviço. Judas cria que Jesus era o Messias, e tinha alegria em participar do seu ministério. Porém, ele sabia que o amor de Judas não seria duradouro, porque, muito embora estivesse convencido das verdades que Jesus dizia, elas não haviam convertido o seu coração. Quando a verdade não converte o coração, ela o endurece.

Cego para a fraqueza do seu caráter, Judas foi posto em uma função que lhe daria a oportunidade de corrigir seus erros. Como tesoureiro, Judas tinha a oportunidade de administrar as atividades do grupo, como alimentação, suprimentos de viagem, etc., e de suprir as necessidades dos pobres. Servindo aos outros, Judas poderia manter o seu espírito abnegado e disposto a servir. Mas, mesmo ouvindo as palavras de amor e testemunhando uma vida isenta de egoísmo, Judas era condescendente, e permitia que os traços da sua corrupção revelassem sua corrupção e cobiça por lucro indevido.

Uma vez em que Jesus pregou um duro discurso, muitos discípulos se escandalizaram e o abandonaram. Jesus perguntou se os doze queriam ir embora também. Pedro, representando os doze, disse que eles não iam a lugar algum, pois Jesus tinha as palavras da vida eterna. Judas acreditava nisso. Mas ele tinha outras aspirações para o ministério messiânico. Judas não se conformava em ver Jesus “desperdiçar” as preciosas chances de assumir o trono do seu povo e libertar Israel. Judas chegou ao ponto de achar que Jesus estava sendo tolo. E começou a questionar a conduta do mestre, e a lançar dúvidas na cabeça dos discípulos. Jesus se preocupava em como Judas estava se abrindo mais e mais à corrupção do seu caráter. A advertência de Jesus à resposta de Pedro foi dura, mas cheia de amor: “Não fui eu que escolhi a vocês doze? Mas, um de vocês é o diabo. Jesus estava falando de Judas, filho de Simão Iscariotes; porque ele estava para traí-lo, sendo um dos doze” (João 6:70, 71). Ou seja, Judas não foi deixado ao abandono. Ele teve muitas chances de se converter de verdade.

Uma vez, quando Jesus tomava uma refeição na casa de Simão (João 12), tio de Lázaro, Marta e Maria, Maria, a caçula entrou sem se notar, quebrou um vaso de alabastro e derramou sobre a cabeça e os pés de Jesus um perfume, avaliado em aproximadamente 18 mil Reais na moeda corrente; ou seja, muito, muito caro.

“Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu esse perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? Isso disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o dinheiro que nela se lançava” (João 12:4-6). Sendo um homem influente, muitos que estavam na confraternização concordavam com a plausível reclamação de Judas. Afinal, para que todo esse desperdício? Imagine quantas pessoas poderiam ter os seus sofrimentos suavizados por meio do dinheiro doado! Isso também atrairia a simpatia dos escribas e fariseus.

“Jesus, entretanto, disse: Deixa-a! Que ela guarde isso para o dia em que me embalsamarem; porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim, nem sempre me tendes” (João 12:7, 8). Jesus disse que, por onde for pregado o evangelho do reino, a história da gratidão de Maria seria contada.

Judas percebeu que Jesus lera os seus pensamentos. Jesus desmascarou a hipocrisia de Judas, mas não a expôs diante do grupo. Porém, louvando a atitude de Maria, Cristo repreendeu o discípulo abertamente pela primeira vez. Embora os discípulos não tenham levado a questão adiante, Judas se sentiu exposto e ofendido. Em vez de admitir seu erro, ele decidiu se vingar. “Judas Iscariotes, indo ter com os principais sacerdotes, propôs: Que me quereis dar para que eu vo-lo entregue? E pagaram-lhe trinta moedas de prata. E, desse momento em diante, buscava ele uma boa ocasião para o entregar” (Mateus 26:14-16). Lucas 22:3, relatando esse pacto de traição, diz que “Satanás entrou em Judas”.

É claro que essa atitude não foi tomada de uma hora para outra. Antes de se cometer o pecado, ele já foi pensado, considerado, acariciado e planejado. Pode ser que, Judas estivesse ficando impaciente, à medida que o tempo passava e as tensões contra Jesus aumentavam no cenário político e religioso de Jerusalém. Judas viu a crescente popularidade de Jesus assinalada pela sua entrada triunfal na cidade santa, mas Jesus não fazia menção de tomar a sua posição de líder político e militar diante do povo. Em vez de um discurso revolucionário, Jesus somente falava do reino do céu e do seu sacrifício que se aproximava.

Como Satanás no céu, Judas começou a envenenar a mente dos discípulos com dúvidas sobre o ministério messiânico de Jesus. Aos poucos, o amor foi dando lugar ao desprezo. Judas não fazia oposição aberta, nem reclamava exteriormente; por isso, os discípulos não desconfiaram dele. Mas, a repreensão de Cristo naquela hora fora a gota d’água para transbordar o cálice de indignação do discípulo; e por isso, ele deu lugar ao diabo.

“O que você pretende fazer, faça de pressa” (João 13:27), disse Jesus na ceia, após se ajoelhar, lavar-lhe os seus pés e lhe dar um bocado do pão que simbolizava o seu corpo. Judas sabia que Jesus sabia. Aquela era a última chance de Judas se arrepender do que estava para fazer.

Se Jesus deveria ser crucificado, traí-lo, ou não, não mudaria o resultado. Se Jesus não deveria morrer, isso o forçaria a se livrar da cruz. Fosse o que fosse, Judas lucraria alguma coisa por sua traição. Julgava fazer um bom negócio em trair o Salvador, e até mesmo achava que Cristo o honraria por força-lo a se livrar da morte e tomar o posto de comando para o qual estava se negando.

No Getsêmani, depois de longas horas de angústia e oração, a polícia do Templo chega, liderada por Judas, ao lugar onde eles se encontravam por várias vezes para orar e descansar. “Amigo! Você traiu o Filho do Homem com um beijo?” (Lucas 22:48). Que ironia! Quando o discípulo rebelde viu, com espanto, Jesus se deixar amarrar e ser conduzido violentamente pelos soldados ao Sinédrio, sua ansiedade começou a crescer. A cada movimento, ele esperava que Cristo os surpreendesse, mostrando-se diante deles como Filho de Deus, reduzindo a nada todos os esforços. Mas, ao ver que Jesus não reagia diante da violência e das acusações mentirosas de um julgamento ilegal, sua expectativa deu lugar ao desespero e remorso.

“Então, Judas, o que o traiu, vendo que Jesus fora condenado, tocado de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos dizendo: Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo. Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se” (Mateus 27:3-5). Que escândalo; que triste fim para alguém com tanto potencial!

O pecado de Judas foi o mesmo pecado de Pedro. Ambos traíram o Mestre; ambos o negaram veementemente. Caro leitor, você não acha que Pedro sentiu a mesma vontade de morrer? Mas, na confusão dos seus pensamentos, mesmo se julgando tão indigno do perdão de Cristo, Pedro experimentou algo muito mais profundo que o remorso: ele experimentou o arrependimento; rasgou o seu coração e confessou o seu pecado. Pedro passou por um doloroso processo de conversão. E, ao se converter a Jesus, recebeu dele, por três vezes, o perdão nas simples palavras: “Pedro, tu me amas? Então, apascenta as minhas ovelhas”.

Judas, no entanto, se tornou o filho da perdição (João 17:12); não porque estava predestinado a cumprir a Escritura, mas por sua própria vontade. Sobre a onisciência de Deus: temos que entender que as coisas acontecem não porque Deus prevê; Deus prevê, porque elas irão acontecer, e esse pré-conhecimento não interfere nos fatos. Não se trata de predestinação. Embora Deus governe a história, não é ele quem predetermina ou predestina as escolhas do ser humano. Deus não predestinou Judas a ser rebelde. Se fosse assim, Deus seria injusto em predestinar uns para a honra e salvação e outros para a vergonha e perdição. Embora Deus soubesse, a decisão de dar lugar ao diabo em sua vida foi exclusivamente de Judas, não de Deus. O mesmo Espírito que instou com Pedro insistiu com Judas para que ele se arrependesse.

A mesma luta de Judas e Pedro é a nossa hoje. As mesmas tendências corruptas para o mal, o mesmo impulso que derrubou a Pedro e matou Judas também está em nós. São muitas as forças do mal que nos seduzem e nos tornam reféns. Elas surgem do coração e das tentações diabólicas de Satanás.

Por isso, ouça atentamente o que o Espírito diz a você: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20). Não basta ouvir; tem que abrir a porta! Não basta receber a semente; tem que deixa-la germinar, crescer e dar frutos (Mateus 13:20-23). Não basta ser um ramo, tem que estar ligado, enxertado na videira (João 15:1-6). Por isso, não seja sábio aos seus próprios olhos, há mais esperança para um tolo do que para ele (Provérbios 26:12). Lembre-se, quando a verdade não converte o coração, ela o endurece (Hebreus 3:12-14). Então, “se hoje, você ouvir a sua voz, não endureça o seu coração” (Hebreus 3:15).

Que Deus o abençoe!

Equipe biblia.com.br

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Denis Versiani é Mestre em Teologia

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