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Pedro e a sucessão apostólica

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A verdade é que, antes do VI século, havia cinco bispados reconhecidos pelos cristãos em geral, e o de Roma era apenas um deles; os demais eram: o de Jerusalém, o de Antioquia, o de Alexandria e o de Constantinopla.

Pr. José Carlos Ramos
Doutor em Teologia

“A Igreja Católica afirma que o Papa é o sucessor apostólico de São Pedro. Uma lista dos 33 primeiros papas, encabeçada por esse grande apóstolo, consta do documento Apologética Católica. Como explicar que essa sucessão apostólica não existe?”

1. S. Pedro, 42-67

2. S. Lino, 67-78

3. S. Cleto, 78-91

4. S. Clemente, 91-100

5. Sto. Evaristo, 100-109

6. Sto. Alexandre I, 109-119

7. S. Sixto I, 119-128

8. S. Telésforo, 128-139

9. Sto. Higino, 139-142

10. S. Pio I, 142-150

11. Sto. Aniceto, 150-162

12. S. Soter, 162-170

13. Sto. Eleutério, 170-186

14. S. Vitor, 186-197

15. S. Zeferino, 197-217

16. S. Calisto I, 217-222

17. Sto. Urbano I, 222-230

18. Ponciano, 230-235

19. Sto. Antero, 235-236

20. S. Fabiano, 236-251

21.S. Cornélio, 251-252

22. S. Lúcio I, 252-254

23. Sto.Estêvão I, 254-257

24. S. Sixto II, 257-259

25. S. Dionísio, 259-269

26. S. Félix, 269-275

27. Sto. Eutiquiano, 275-283

28. S. Caio, 283-295

29. S. Marcelino, 295-304

30. S. Marcelo, 304-310

31. Sto. Eusébio, 310-311

32. S. Melcíades, 311-313

33. S. Silvestre I, 313-336

A relação dos primeiros papas, constante de publicações católicas, nada tem a ver com “sucessão de papas”, muito menos proveniente de Pedro, já que o sistema papal de governo eclesiástico se tornou uma realidade somente a partir do 6º século. A lista enviada em sua correspondência contém, no máximo, nomes de líderes locais da igreja de Roma, e não de papas. É mesmo questionável que Pedro haja se tornado líder ali, no período que aparece na lista. Fosse este o caso, e certamente Paulo, ao escrever aos Romanos em 58 d.C., ao menos citaria o nome do apóstolo (o mínimo que se poderia esperar em suas saudações, no capítulo 16), ou então, com maior razão, ter-se-ia dirigido a ele na abertura da epístola.

A verdade é que, antes do VI século, havia cinco bispados reconhecidos pelos cristãos em geral, e o de Roma era apenas um deles; os demais eram: o de Jerusalém, o de Antioquia, o de Alexandria e o de Constantinopla. A preeminência do bispo de Roma, em prejuízo dos demais que também exerciam influência no governo da Igreja, tornou- se cada vez mais evidente, conforme os anos passaram. Em 533, Justiniano, imperador do Império Romano oriental, o nomeou “cabeça de todas as igrejas cristãs”. A essa altura, Constantinopla, e não mais Roma, era a sede do governo secular. Assim, a romanização do cristianismo aconteceu, e o caminho foi franqueado para o surgimento do papado na antiga sede, Roma. Como diz o historiador W. Durant, a Igreja não se limitou a tomar algumas formas e costumes religiosos da Roma pré-cristã – a estola e outras vestes sacerdotais, o uso do incenso e da água benta nas purificações, o círio e a luz perpetuamente acesa nos altares, a adoração dos santos, a arquitetura da basílica, a lei romana como lei básica da lei canônica, o título de Pontifex Maximus, para o supremo Pontífice, e no século IV o Latim como língua oficial. A grande coisa que Roma deu à Igreja foi uma vasta estrutura de governo que, quando a autoridade secular desabou, veio a se tornar a estrutura do governo eclesiástico (W. Durant, César e Cristo, II, p. 285).

É assim que o sistema papal surgiu, não com Pedro, no primeiro século. Pedro nunca foi papa; ele foi apóstolo, e os papas são, isto sim, sucessores dos imperadores romanos pagãos. Pelas palavras de Durant, sente-se uma sequência natural entre estes e os papas, que ganharam finalmente o predomínio, em virtude da maneira como as coisas sucederam no Império. A Bíblia jamais reconhece qualquer tipo de sucessão apostólica. O máximo por ela admitida é uma substituição apostólica, a de Matias tomando o lugar de Judas Iscariotes (Atos 1:15-26). Apostasia requer substituição, mas a morte não implica sucessão. Tiago, irmão de João, martirizado pela espada de Herodes (Atos 12:2), jamais foi substituído.

Outro equívoco é afirmar, com base em Mateus 16:13-19, que Jesus conferiu a Pedro o primado supremo da Igreja. Ele não é a pedra do verso 18; esta é Jesus, muito bem descrito pelo apóstolo como “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (verso 16). É sobre o que esta declaração de fé evoca que a Igreja é edificada, e não sobre um mero homem, pecador e fraco o suficiente para que “as portas do inferno” (verso 18) sobre ele de fato prevalecessem, tal como quando, por três vezes, negou o Senhor (26:69-75). E o que Jesus assegurou a Pedro em 16:19, “dar-te-ei as chaves do reino dos Céus; o que ligares na Terra, terá sido ligado nos Céus; e o que desligares na Terra, terá sido desligado nos Céus”, é igualmente assegurado a toda a Igreja, em 18:18. Aplicadas individualmente a Pedro, estas palavras indicam que a ele fora conferido o privilégio de ser o primeiro a abrir as torrentes de salvação para os pecadores.

Com efeito, foi ele quem “abriu” a obra de pregação do evangelho para o mundo, tanto a judeus (Atos 2:14) como a gentios (Atos 10). Mas no que respeita à administração eclesiástica, seu “primado” (se assim se pode dizer) nunca foi exclusivo. Mais de vinte anos depois do Pentecostes de Atos 2, ele não é senão uma das três colunas da Igreja de Jerusalém, a igreja-mãe das demais; as outras duas eram João, e o não apóstolo Tiago, o irmão de Jesus (Gálatas 2:9).

Equipe Biblia.com.br

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