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“Vós sois a luz do mundo”

Jesus.

Nosso papel neste mundo deve ser de relevância. Relevância tal como das lamparinas daqueles dias para um mundo que está em trevas.

Para quem vive no século XXI e conta com o conforto da energia elétrica, é difícil imaginar uma noite dos dias de Cristo. Nossos olhos, acostumados à claridade artificial das diferentes lâmpadas de LED, fluorescentes, incandescentes ou de halogêneo, achariam o mundo em que viveu nosso salvador tremendamente escuro. Por outro lado, nos surpreenderíamos com a quantidade enorme de estrelas – hoje invisíveis por causa da claridade excessiva – e que nem imaginaríamos que existissem. Nosso sono certamente seria melhor, pois a melatonina (substância essencial para o sono) não seria interrompida pelos smartphonestablets ou telas de computador que acompanham muitos para a cama na hora de dormir.

Seja como for, o objetivo deste ensaio não é comparar qual dos dois períodos é melhor – o de ontem ou de hoje. Há prós e contras em ambos os tempos. Somente depois da volta de Jesus teremos um universo perfeito num contexto igualmente perfeito. Contudo, o estudo dos modos de vida do passado lança considerável luz ao texto bíblico que hoje possuímos. E por falar em luz, que tal conhecer uma novidade sobre as lâmpadas da época de Cristo?

Escavações conduzidas em 2015 na cidade de Shikin, uma das vilas judaicas próximas de Nazaré, revelaram restos de uma pequena fábrica de lamparinas de argila. Ela foi encontrada nas proximidades da antiga sinagoga local e datada do 1º século d.C. O edifício, a bem da verdade, é posterior aos dias de Cristo e provavelmente tenha surgido como resultado do êxodo de judeus da Judeia para a Galileia por causa da destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C.

Apesar de ser uma edificação construída cerca de 30 anos após a ascensão de Cristo aos céus, o local ajuda a explicar as ilustrações dadas pelo mestre acerca da luz. Ali foram encontradas lâmpadas bem elaboradas e outras mais rudemente confeccionadas, tendo como matéria prima argila de má qualidade. Isso indicaria, na opinião dos arqueólogos, que ali houvesse uma escola de fabricação de argilas e aquelas mais rudimentares seriam obra de aprendizes.

Graças a esse achado, constatou-se que, diferentemente do que anteriormente se cria, lamparinas de argila eram confeccionadas na Galileia e não apenas importadas da Judeia. Muitas dessas passaram pelas mãos de pessoas que conviveram com aqueles que conheceram Jesus pessoalmente.

A diferença necessária

As lâmpadas – ou lamparinas – tinham importância singular naqueles dias, já que as noites eram tremendamente escuras. Sem esses pequenos artefatos alimentados à base de azeite de oliva, até o simples ato de andar em casa durante a noite seria uma tarefa muitíssimo arriscada. Por isso, era muito importante ter e manter as lamparinas à mão, fato que nos lembra bem a parábola das dez virgens, em que cinco delas não se proveram de óleo suficiente para alimentar suas lamparinas e, por isso, perderam a oportunidade de participar das bodas ao lado do noivo (Mateus 25:1-13).

Embora fosse artigo de primeira necessidade, e por isso acessível a todos, isso não significa que as lamparinas fossem necessariamente baratas. Em Pompeia (destruída pelo Vesúvio em 79 d.C.), uma unidade era vendida por um asse, dinheiro equivalente a 10% do valor ganho durante um dia inteiro de trabalho no campo. Jesus falou do asse ao mencionar que com esse valor poderia se comprar dois pardais (Mateus 10:29). Portanto, não era algo caríssimo, mas também não se tratava de um valor pequeno para os que pertencessem às classes menos favorecidas da sociedade.

Com isso em mente, amplia-se o entendimento sobre o que disse Jesus em Mateus 5:14 e 15, quando classificou os discípulos como a luz do mundo. A comparação seguinte com a cidade edificada sobre um monte e a lamparina que é posta no velador e ilumina a todos os que estão na casa torna-se muito interessante. Nosso papel neste mundo deve ser de relevância. Relevância tal como das lamparinas daqueles dias para um mundo que está em trevas. Não podemos mercadejar a palavra de Deus, tornando-a cara demais, porém, assim como as lâmpadas, não podemos ignorar que a mensagem tem um preço a ser pago.

Comentaristas acreditam que ao falar da cidade edificada sobre o monte, Jesus provavelmente se referia a Safed, que existe até hoje e tornou-se uma das consideradas sagradas pelo judaísmo. Ela fica nas colinas adjacentes da Galileia, a cerca de 800 metros acima do nível do mar, e até hoje é bem visível para quem está em localidades mais baixas ou à beira do Mar da Galileia. Nos tempos de Cristo, provavelmente era uma fortaleza e suas luzes acesas lá no alto poderiam ser vistas por todos que estivessem nas partes mais baixas, causando admiração e servindo perfeitamente de ilustração ao exemplo dado por ele.

É exatamente assim que devemos ser como cristãos neste mundo de trevas. Devemos ser luz e nos portar como luzes, como pessoas que não estão aqui para brilhar em glória própria, mas no intuito de iluminar pessoas que também precisam encontrar o caminho certo em meio a escuridão do pecado.

Equipe Biblia.com.br

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Graduado em Teologia, pós-graduação em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção (1999), mestrado em Teologia Histórica pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus – atual Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE (1996). Especialização em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém (1998). Doutorado em Teologia Bíblica pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. Assunção – atualmente vinculada à PUC SP (2001). Estudos pós doutorais com concentração em arqueologia bíblica pela Andrews University, EUA (2008). Doutor em arqueologia clássica pela Universidade de São Paulo. É professor de Teologia e Arqueologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – Campus Engenheiro Coelho, SP (UNASP-ec), curador do Museu Paulo Bork de Arqueologia do Oriente Médio e apresentador do programa Evidências, da TV Novo Tempo.

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