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Grupos geracionais e as novas gerações

economia

Os estudos geracionais têm se tornado cada vez mais relevantes nas organizações, pois permitem um conhecimento mais aprofundado das ações humanas, entendendo seus gostos, costumes, preferências, tendências e comportamentos.

Pr. Marcelo Cardoso

 

Para o entendimento do conceito de (NG) e sua importância, há a necessidade de se voltar ao passado e compreender profundamente os movimentos que reestruturaram sistematicamente a maneira de agir e pensar do ser humano desde o século XVI. O Iluminismo trouxe uma quebra gradual hegemônica da igreja no Velho Mundo, ocorrendo o desenvolvimento intelectual que vinha surgindo com o Renascimento e abrindo o caminho para o nascimento de ideias libertárias em diferentes áreas da sociedade europeia, chegando ao âmbito religioso. Os iluministas, assim se autodenominavam por acreditarem que seus pensamentos eram contrários ao que eles entendiam como um retrocesso originado pela opressão filosófica-religiosa e se julgavam como propagadores de luz e conhecimento, daí o termo iluministas.

René Descartes (1596 – 1650), famoso iluminista e considerado até hoje como o pai do Racionalismo, em sua principal obra ressalta que o discurso da razão, apresenta uma verdadeira afronta a qualquer tipo de crença sem fundamentos científicos para  justificá-la, isso promoveu mudanças significativas na filosofia, ciência, política e principalmente no pensamento religioso à época.

A partir de então, o mundo começava a viver ares de desprendimento das amarras da igreja dominante e da ascensão de uma forma de pensamento que valorizava o racionalismo e o cientificismo, questionando tudo que não coadunasse com a ciência e com as explicações lógicas. Hervieu-Léger define que este momento passou a ser conhecido como Modernidade e que trazia traços bem específicos, cujos resultados envolviam o enfraquecimento social e cultural da religião; ela chega a apresentar três características para este enfraquecimento: 1) A Modernidade coloca à frente em todos os domínios da ação, a racionalidade, fazendo com que a ciência dissipasse toda a ignorancia gerada por uma fé cega e sem fundamento. 2) A Modernidade começa a formar um indivíduo capaz de fazer o mundo no qual ele vive e constrói ele mesmo as significações que dão sentido a sua própria existência, sem necessitar mais da religião para isso. 3) A Modernidade inicia um tipo particular de organização social, caracterizada pelo enfraquecimento das instituições, incluindo aqui as igrejas. É neste processo que a socióloga francesa chega a dizer:

Nestas novas sociedades marcadas pela Modernidade, o político e o religioso se separam; o aspecto econômico e o doméstico se dissociam; a arte, a ciência, a moral, a cultura constituem igualmente registros distintos nos quais os homens realizam a sua capacidade criativa. Mas, ela aparece em toda parte inseparável do processo pelo qual a autonomia da ordem temporal constituiu-se progressivamente emancipando-se da tutela da tradição religiosa.

Desde a declaração de Nietzsche de que “Deus está morto”, a religião tenta retomar o seu papel de protagonista, proclamando a “revanche divina” e se reestruturando dentro do cenário social com o desenvolvimento de novos movimentos espirituais, movimentos que vão das correntes carismáticas e pentecostais, a teologia da libertação e da prosperidade, ou a associação com inspirações esotéricas em seus cultos. Esses fenômenos forçaram a criação de um paradoxo da Modernidade de visão na crença, pois de um lado, são desqualificadas as grandes explicações religiosas do mundo pelas quais as pessoas no passado encontravam um sentido e por outro fazem com que as instituições religiosas continuem a perder a sua capacidade social e cultural de impor e regular a vida do ser humano, perdendo gradativamente fiéis ou produzindo membros sem compromisso ou filiação religiosa.

Sobre isso, ressalta-se que cada vez mais cresce neste ambiente o número daqueles que se declaram sem religião, lembrando que eles em diversos casos, podem não declarar uma religião ou frequentar uma igreja formalmente, mas isso não deve de maneira alguma enquadrá-los no grupo dos descrentes, dos que não creem em alguma forma de ser supremo ou transcendente. A Pew Research Center, reconhecido centro de pesquisas e informações estadunidense, que estuda tendências e atitudes sociais, e que geram implicações em áreas como: política, economia, sociologia e religião no mundo, afirma que os sem religião nos Estados Unidos, tem dobrado percentualmente o seu número de adeptos nos últimos anos. Na Europa este grupo alcança incríveis 68% da sua população, chegando a países como a França com uma taxa de 73%. No Brasil, Mariano ressalta que no último censo realizado em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), essa categoria era representada por 8% em relação ao somatório geral da população brasileira. Porém, ainda segundo ele, há uma previsão de crescimento para o próximo levantamento na ordem de 12%, levando em consideração a taxa de crescimento das principais religiões que compõe o cenário brasileiro, esse número chega a ser assustador.

Nicodemus, um líder religioso cristão, ao fazer uma avaliação do contexto religioso atual se mostra preocupado com o crescimento não só dos sem religião, mas também dos ateus e agnósticos, chega a afirmar que é inconteste que em tempos atuais a quantidade de ateístas, agnosticistas e sem religião ganha um volume cada vez mais contundente.

Ainda na compreensão deste universo religioso, não se deve desprezar os recentes estudos sociológicos geracionais que trazem diferentes análises sociológicas e que abarcam não somente aquelas que indicam diferenças de classes, desigualdades de gênero, étnico-raciais e culturais. Vive-se um momento de reconstrução das trajetórias sociais, tornando cada vez mais imprescindível o estudo e a compreensão das ações coletivas empreendidas pelas diversas gerações que vão surgindo pelo caminho, bem como conhecimento dos desafios que as mesmas enfrentam.

Os estudos geracionais têm se tornado cada vez mais relevantes nas organizações, pois permitem um conhecimento mais aprofundado das ações humanas, entendendo seus gostos, costumes, preferências, tendências e comportamentos. Isto se deve, a uma compreensão das diversas etapas pela qual passa o indivíduo em sua trajetória de vida, sendo influenciado desde a época do seu nascimento, passando por seu desenvolvimento e por movimentos sociais vivenciados no decorrer de sua existência ou por momentos críticos.. Oliveira afirma que todo ser humano está ligado a um mesmo histórico de vida, carregando uma timeline e isto é o que o torna parte de um grupo com conexão geracional:

A mesma juventude que está orientada pela mesma problemática histórico-atual vive em uma “conexão geracional”; aqueles grupos que dentro dessa mesma conexão geracional processam essas experiências de forma distinta constituem distintas “unidades geracionais” no âmbito da mesma conexão geracional. A definição dos grupos geracionais, parte do pressuposto de que a experiência comum gera uma tendência ao processar os acontecimentos de forma semelhante, moldando vieses na percepção, na preferência por valores e mindset. Assim, para se definir uma geração, são identificados eventos históricos, políticos ou sociais que geraram impactos nos valores, atitudes e comportamentos das pessoas envolvidas, para delimitar datas de referência.

Essa abordagem inicia de uma perspectiva sociocognitivo-cultural, para a qual as gerações são produtos de eventos históricos, que, por sua vez, criam padrões de comportamento. Apesar de aparentemente objetiva, essa prática não tem um total consenso entre pesquisadores, principalmente em relação às datas que delimitam cada grupo e as caracterizam. No entanto, Veloso e Dutra apontam que, apesar das divergências entre autores, em especial quanto à época que define cada geração, as pesquisas não diferem significativamente quando conceituam as características dos cinco grupos mais utilizados na literatura: veteranos, baby boomers, geração X, geração Y ou Millenious e geração Z.

Sociólogos e estudiosos afirmam que é cada vez mais difícil comparar as novas gerações, pois o tempo de distância que as separam se reduz de uma para outra na medida que vai surgindo uma geração nova. Tendo como base as gerações passadas que eram formadas por períodos de 25 anos, as de hoje, um quarto de século é praticamente cem anos para elas. Muitos distinguem o avanço da tecnologia, o volume exacerbado de informações, além do encurtamento das distâncias por meio da internet, como fatores que aceleram a redução do tempo e propiciam mudanças cada vez mais rápidas nas relações sociais, familiares e de trabalho. Compreender estas mudanças neste cenário de tamanha fluidez e incertezas tem sido um desafio sociológico cada vez maior, pois novas gerações vão surgindo com suas diferentes características a cada dez anos em média e atrelados a elas, seguem as novas e diferentes formas como os indivíduos pensam, se comportam, e consomem produtos e serviços.

De acordo com o CPDEC – Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada, seus comportamentos estão atrelados às características marcantes de cada geração, apresentadas na tabela abaixo:

 

Veteranos (1935-1945) BabyBoomers

(1946-1964)

Geração X (1965-1980) Geração Y (1981-1997) Geração Z (1998-2009)
Assistiram os pais lutarem pela sobrevivência.

São

conservadores e cuidadosos com o dinheiro.

 

Valorizam segurança e estabilidade.

Representam grupo experiente.

Iniciaram a carreira com máquinas de escrever, sem computadores e celulares.

 

Passaram por momentos difíceis da economia mundial.

São fortes candidatos a posição de liderança.

Iniciaram a carreira juntamente com os avanços da tecnologia.

 

Se divertiam com os primeiros vídeo games.

 

Valorizam o empreendimento.

Buscam posições de liderança.

Cresceram com a tecnologia.

 

Possuem mentalidade global

 

Aceitam mais fácil as diferenças.

 

Viveram bons momentos da economia mundial.

 

Representam o grupo mais jovem da organização.

São totalmente tecnológicos

(nativos digitais).

 

Têm pais protetores.

 

Valorizam o engajamento em ações sociais.

 

Entediam-se facilmente.

 

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