Elias, o Profeta de Fogo
fé
Assim como Elias nós estamos inseridos em uma guerra, onde o que está em jogo é a nossa existência ou destruição. O campo de batalha é pelo domínio da nossa mente.
Denis VersianiOs planos de Deus sempre foram altos para o povo de Israel. Desde Abraão, Deus preparou o caminho para que esse povo carregasse a linhagem do Messias que salvaria a raça humana. Deus transmitiu suas leis por meio do próprio Moisés, que, no fim da sua vida, disse: “Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente” (Deuteronômio 4:6).
Era para Israel ser o espelho de Deus ao mundo. Uma potência mundial que, por sua prosperidade, riqueza e justiça, faria o mundo inteiro ver os benefícios de servir a Deus. Assim, quando o Messias viesse, todas as nações o receberiam. Por um breve período, durante os reinados de Davi e Salomão, Israel experimentou o que é ser o espelho de Deus. Mas, se perdeu no caminho, e preferiu servir aos deuses importados das nações que Deus tinha expulsado de diante deles. De povo escolhido de Deus, Israel se tornou o companheiro dos tolos, e se deu muito mal.
Eu não sei se você já notou, mas nós estamos inseridos em uma guerra, um grande conflito, onde o que está em jogo é a nossa existência ou destruição. O campo de batalha é pelo domínio da nossa mente. Deus luta por libertá-la, e Satanás, por escravizá-la; e tudo nesse conflito se resume a uma questão: quem você vai adorar: a Deus ou Satanás?
Depois da morte de Salomão, por uma série de tensões políticas, o povo de Deus se dividiu em dois reinos: o reino do Sul, formado pelas tribos de Judá e Benjamim, com a capital Jerusalém, e o reino do Norte, ou Reino de Israel, constituído pelas outras dez tribos. O reino de Judá vivia em altos e baixos de uma “montanha-russa espiritual”. Mas o reino de Israel já mergulhou desde o início em uma decadência religiosa, substituindo pouco a pouco o culto a Deus pela idolatria.
Acabe foi o sétimo rei do reino do Norte. O livro de 1 Reis 16:29 diz que seu reinado foi marcado desde o início por uma estranha e terrível apostasia. Acabe se casou com Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sidom e sumo sacerdote de Baal. Era um homem corrupto e de caráter extremamente fraco, e fez mais abominações para irritar o Senhor do que todos os reis de Israel (1 Reis 16:33). O livro de 1 Reis mostra que Acabe foi altamente influenciado por Jezabel, uma mulher de pulso firme, cruel e implacável (1 Reis 18:4; 19:1-3; 21:8-16 e 25). Ela influenciou Acabe a instituir em Israel o culto a Baal e Aserá. Até então, era comum que o povo ainda adorasse a Deus. Mas Acabe, instigado por Jezabel, não somente encorajou os cultos idólatras nos santuários de Betel e Dã, como ousadamente levou o povo a todas as piores formas do culto a Baal (1 Reis 16:31, 32).
Baal, o “senhor da tempestade” era o principal deus masculino das nações ao redor de Israel. A mitologia semita diz que Baal era casado com Aserá, a deusa do poste-ídolo de 1 Reis 16:33. Era considerado o deus da fertilidade, o princípio vital da natureza. Ou seja, Sol, chuva, plantações, gado, procriação eram algumas bênçãos atribuídas a Baal. Havia muitos sacerdotes. Durante o reinado de Acabe, eram quatrocentos e cinquenta, que queimavam incenso, e ofereciam no fogo crianças vivas em sacrifícios macabros regados a bebidas, danças, sexo e autoflagelação.
Aserá, esposa de Baal, era a deusa mãe canaanita da fertilidade, do amor e da guerra. Também chamada de Astarote, possuía sacerdotes e sacerdotisas que faziam rituais sexuais de prostituição cultual, como oferenda por bênçãos sobre as colheitas, o gado e a guerra. Seus altares estavam no alto de colinas cercadas por bosques, ou nos totens ao lado dos altares de Baal. Jezabel sustentava quatrocentos profetas de Aserá. Com o culto a Baal e Aserá, Israel mergulhou fundo em todo tipo de perversão sexual, corrupção e violência.
Adoração – isso é tudo o que está em jogo! Satanás, expulso do Céu por desejar ser adorado como Deus (Isaías 14:12-14), viu que a única forma de obter essa adoração era destruir a imagem de Deus no ser humano e na sociedade, ao desviar de Deus o foco da adoração.
Elias
“Então, Elias, de Tisbe, em Gileade, disse a Acabe: Juro pelo nome do Senhor, o Deus de Israel, a quem sirvo, que não cairá orvalho nem chuva nos anos seguintes, exceto mediante a minha palavra” (1 Reis 17:1).
Elias, que é considerado um dos maiores profetas da história de Israel, surgiu subitamente na história. Um profeta de Deus com uma missão urgente num tempo de crise. Se o pecado não fosse contido, em pouco tempo, toda a nação cairia em ruína. Elias surge, valente e ousado contra Acabe e a poderosa Jezabel, acusando a sua conduta e desafiando o poder de Baal. Qual seria então, a resposta do “senhor da tempestade” ao oráculo desse profeta desconhecido?
Tiago 5:17 diz que por três anos e meio não choveu sobre a terra de Israel, porque o verdadeiro Deus tem poder sobre os ventos, o mar e a chuva (Marcos 4:41). Essa crise de abastecimento foi tão terrível que plantações, animais e seres humanos sucumbiram à seca. A ira de Acabe se acendeu, e ele colocou a cabeça de Elias a prêmio (1 Reis 18:10).
Nesse período, Elias experimentou e realizou milagres extraordinários que só seriam feitos pelo próprio Jesus. Foi servido no deserto (1 Reis 17:5-7), multiplicou trigo e azeite para uma viúva pobre (1 Reis 17:10-16) e ressuscitou o filho daquela viúva (1 Reis 17:17-24).
O apóstolo Tiago fala algo interessante sobre Elias. Ele “era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos” (Tiago 5:17). Por isso, amigo, não pense que Elias é melhor que você. O que o diferenciava das pessoas da sua época é algo que está acessível a cada um de nós hoje: FÉ! A fé, que é um dom de Deus, é a disposição de servi-lo ainda que tudo dê errado.
Após três anos e meio, Elias se apresenta a Acabe, firme e decidido, na certeza de que Deus está com ele nessa missão. “Quando viu Elias, [Acabe] lhe disse: É você mesmo, perturbador de Israel?”
“Não tenho perturbado Israel, Elias respondeu. Mas você e a família do seu pai têm. Vocês abandonaram os mandamentos do Senhor e seguiram os deuses de Baal. Agora, convoque todo o povo de Israel para encontrar-se comigo no monte Carmelo. E traga os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Aserá, que comem à mesa de Jezabel” (1 Reis 18:17-19).
O Monte Carmelo era um monte importante no culto a Baal e Aserá. Com mais de 500 m de altura, e anteriormente cheio de bosques, pomares e nascentes, era agora um cenário de seca e desolação, um retrato perfeito da falácia da idolatria.
“Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o outro? Se o Senhor é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, sigam-no” (1 Reis 18:21). Quem você seguiria, Deus ou Baal? Um cristão certamente responderia: Eu adoro somente a Deus! Mas será que isso é verdade? Não precisa ser uma “imagem de escultura” (Êxodo 20:4). Qualquer coisa, mesmo que seja boa, como um emprego, uma casa ou até mesmo a família, se ocupar o primeiro lugar, o lugar de Deus na sua vida, vai se tornar um deus para você. Satanás não precisa tirar você da sua igreja para afastar você de Deus. Mas se o seu cartão de crédito, ou a sua rede social forem mais importantes, se uma foto indiscreta ou um pensamento indecente ocuparem a sua mente, o diabo já vence a batalha; e a rebelião entra pela porta aberta no seu coração.
Esse é o problema do cristianismo hoje. É Jesus que diz: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno, nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Apocalipse 3:16). Até quando nós vamos oscilar de um lado para outro?
A Batalha do Carmelo
Em 1 Reis 18: 20 a 40, Elias estabeleceu as regras do combate. Dois novilhos deveriam ser mortos e oferecidos em sacrifício. Um sobre o altar de Baal e o outro sobre o altar de Yaweh. Quem respondesse com fogo seria o Deus verdadeiro. O desafio era bem sensato para Acabe, afinal, se Baal era o deus da tempestade, ele poderia perfeitamente mandar um de seus relâmpagos.
Elias deu a chance para os oitocentos e cinquenta profetas fazerem o seu sacrifício. Dançando e se contorcendo em seu ritual, imploravam a Baal por uma resposta. Mas, conforme o sol quente da manhã subia, nada acontecia, até que eles começaram a se automutilar, e aquele culto se transformou num frenesi desordenado.
O profeta de Deus, com um ótimo senso de humor, “zombava deles, dizendo: Clamem mais alto! Afinal, ele é deus! Pode ser que esteja meditando, ou resolvendo algum problema, ou viajando… Deve estar dormindo, mas vão em frente! Ele vai acordar” (1 Reis 18:27 – tradução livre). O tempo passou, e absolutamente nada aconteceu.
Passado o meio-dia, Elias assumiu o comando e chamou a atenção do povo. Com reverência, Elias reedificou o altar do Senhor, que estava em ruínas (verso 30). Sozinho, ele armou a lenha e posicionou o novilho. Depois, uma vala foi cavada ao redor do altar. Naquela seca ardente, Elias ordenou que muita água fosse derramada sobre o sacrifício até encher a vala.
Por volta das três horas daquela tarde quente, a multidão cansada, faminta e entediada viu Elias se prostrar diante do altar. À mesma hora em que o sumo sacerdote apresentava o sacrifício da tarde no santuário de Jerusalém, Elias clamou em voz alta: “O Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, que hoje fique conhecido que tu és Deus em Israel… Responde-me, ó Senhor, responde-me, para que este povo saiba que tu, ó Senhor, és Deus e que fazes o coração deles voltar para ti” (1 Reis 18:36, 37).
“Então o fogo do Senhor caiu e queimou completamente o holocausto, a lenha, as pedras e o chão, e também secou totalmente a água na vala. Quando o povo viu isso, todos caíram prostrados e gritaram: O Senhor é Deus! Yahweh é Deus!” (1 Reis 18:38, 39). Não foi um apenas um relâmpago, uma coluna de fogo consumidor que desceu como um meteoro dos céus, atingindo, em cheio aquele altar. Espantada, a multidão correu para longe, enquanto Elias permaneceu ajoelhado diante daquela coluna ardente que descia do verdadeiro Deus. Elias teve fé que nada é impossível para Deus! Aquele que criou os céus e a terra mostrou com facilidade todo o seu poder a Israel sobre o Carmelo.
Os profetas de Baal e Aserá foram mortos por ordem de Elias, e Acabe foi desmoralizado diante do povo. Elias permaneceu no Carmelo, com a cabeça entre os seus joelhos rogando pelo cumprimento da promessa, até que, no fim daquela tarde, a chuva caiu como uma cachoeira sobre Israel. Caía tanta água que era impossível à carruagem real seguir adiante. Deus cumpriu sua promessa e derramou torrencialmente as suas bênçãos sobre o sedento reino de Israel.
Até hoje, para os judeus, Elias é considerado um dos profetas mais importantes, por causa da reforma que ele realizou. Por isso, os escribas e fariseus acreditavam que Elias voltaria para anunciar a vinda do Messias. Quando Jesus disse que Elias veio e não foi recebido por Israel, ele se referia a João Batista, que empregou a mesma reforma, preparando o coração do povo para a vinda do Messias (Mateus 17:10-13; veja João 1:20, 21). João não era uma reencarnação de Elias, mas a mesma ousadia e o poder do Espírito Santo estavam sobre João. A isso, nós chamamos de “espírito de Elias”, não uma entidade reencarnada, mas uma disposição em mudar o mundo pelo poder de Deus.
Hoje, como nos dias de Elias, o limite entre o povo que guarda os mandamentos de Deus e a fé em Jesus (Apocalipse 14:12) e aqueles que adoram os falsos deuses da sociedade moderna está muito bem definido. Deus convida a cada um de nós para fazer parte de um povo santo que se submete a Deus e combate o pecado de frente, no poder do Espírito Santo. Ele chama você e a mim para participarmos de um movimento que se levante “no espírito de Elias” para questionar o mundo: “Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o outro? Se o Senhor é Deus, sigam-no.” Deus chama você e eu para pregar o evangelho eterno do Cristo crucificado, que morreu e ressuscitou, foi preparar-nos um lugar, e em breve, voltará para nos buscar (João 14:1-3).
Se você estiver disposto a mudar e se submeter a Deus por meio de oração fervorosa e estudo da sua Palavra, Deus não somente vai resgatar você do pecado, mas também vai transforma-lo em um poderoso instrumento para salvar muita gente. Então, decida-se a ser um espelho de Deus ao mundo. Glórias sejam dadas àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que pedimos ou pensamos (Efésios 3:20, 21).
Equipe Biblia.com.br
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Denis Versiani é Mestre em Teologia.