Testamento Escrito com Sangue
Jesus.
É no sangue de Cristo que todo o ritual do santuário se cumpre. É no sangue de Cristo que a antiga aliança passa a ter sentido...
Denis Versiani
Muitas brigas familiares poderiam ter sido evitadas se o pai ou a mãe falecidos tivessem feito um testamento expressando sua vontade com relação aos bens. Eu conheço um caso em que os pais faleceram sem legar a sua casa a seus filhos vivos, dividindo o valor do patrimônio como eles queriam por meio de um testamento. Assim, uma batalha judicial entre filhos e alguns netos pela partilha está acontecendo, e traz muita dor para a família. Por isso, fazer um testamento é importante.
Quando alguém percebe que sua morte pode estar próxima ela pode passar seus bens a outras pessoas ou entidades por meio de um testamento. Nesse documento, a pessoa também pode nomear um tutor, confessar uma dívida ou reconhecer um filho. Por ser um documento tão importante e que expressa a vontade unilateral do testador, após a sua morte, o testamento passa a ter efeito solene, personalíssimo e jurídico, e não pode ser revogado ou modificado.
O escritor do livro de Hebreus, falando sobre o efeito legal de um testamento, diz que, “No caso de um testamento é necessário que se comprove a morte daquele que o fez; pois um testamento só é validado no caso de morte, uma vez que nunca vigora enquanto está vivo quem o fez (o testador)” (Hebreus 9:16, 17). Como entender esse texto? O que o autor de Hebreus estava falando ao citar a importância de um testamento?
Quando Adão e Eva caíram em pecado no jardim do Éden, eles foram alienados da glória e da vida concedida por Deus. Eles perderam seu status de filhos de Deus. Essa situação demandava a morte definitiva e imediata daquele casal. Eles deveriam ter sido destruídos. Mas, para demonstrar o seu amor à humanidade e ao Universo, Deus colocou em prática o plano da salvação, idealizado antes da fundação do mundo. Nesse plano, o Filho de Deus assumiria a natureza humana sem pecado, viveria como um homem e morreria, carregando sobre Si o pecado e a condenação de toda a humanidade (João 1:14, 29; cf. Isaías 53:4, 5). Por meio desse sacrifício, Jesus teria os méritos e a autoridade jurídica diante de todo Universo para declarar justo todo aquele que nEle cresse (João 3:16, 17).
Porém, desde a queda de Adão até a morte de Cristo, o que aconteceu com os pecados cometidos? Eles ficaram sem ser perdoados? O que garantia a vida deles, já que Cristo ainda não tinha morrido? Com base nesse plano de salvação, uma aliança foi feita com todos os patriarcas desde Adão, e posteriormente ratificada por meio do ritual do Santuário israelita.
O livro de Hebreus descreve de forma resumida todo o ritual estabelecido no livro de Levítico. Hebreus 9:1-7 descreve o tabernáculo israelita como um modelo do Santuário Celestial, com seus dois cômodos, bem como os ofícios realizados ao longo do ano. No primeiro cômodo, o Lugar Santo, os sacerdotes ministravam diariamente; e no Lugar Santíssimo, uma vez por ano, com sangue de um bode, o sumo sacerdote oficiava a expiação.
O autor de Hebreus diz que um sacerdote deveria realizar o serviço sagrado pelos seus próprios pecados e pelos do povo. Isso mostra que o sacerdote também precisava de mediação por ser pecador. Para que o pecador não morresse, Deus estabeleceu que, desde Adão, e então no ritual do santuário, as coisas sagradas fossem santificadas com o sangue de bezerros e bodes (Hebreus 9:7, 19). Nessa aliança, o pecador deveria oferecer um animal para ser morto, tendo o sangue dele derramado em seu lugar, para perdão dos pecados. Tudo isso era uma parábola, uma ilustração do que sacrifício de Cristo no Calvário faria pelo pecador.
A primeira, ou antiga aliança, simbolizada pelo ritual do tabernáculo israelita se baseava no derramamento de sangue de animais como substitutos do pecador. Mas, por sua imperfeição, diariamente, de manhã e de tarde um cordeiro precisaria morrer. O sacrifício teria que ser repetido todos os dias. Isso mostra que tudo aquilo era de fato ineficaz para aperfeiçoar o adorador (Hebreus 9:9, 10). Esses eram apenas símbolos de um processo didático que deveria ensinar o povo sobre o seu estado de pecado. Esses símbolos deveriam preparar o coração do adorador para receber, pela fé, o perdão que viria só no futuro.
Conforme analisamos no início do artigo, um testamento tem o efeito jurídico de, por exemplo, legar a herança de um pai para seu filho. Qual é a nossa herança? Somos perdoados, adotados por Deus, fazemos parte do povo santo, somos declarados justos diante de todo o Universo e participantes da natureza divina, recebendo em nossa vida o amor e a presença de Deus aqui e na eternidade, essa é a nossa herança (Hebreus 8:10; João 3:16, 17; 1 João 4:9-12). Hebreus 9:11-14 nos diz que o sangue de animais poderia apenas purificar as coisas visíveis, mas não tinha efeito
para salvar o pecador. Mas o sangue de Cristo, inocente, puro e sem pecado, tem o poder de purificar o pecador no nível da consciência. É no sangue de Cristo que todo o ritual do santuário se cumpre. É no sangue de Cristo que a antiga aliança passa a ter sentido, sendo convertida a uma nova e superior aliança. Por meio do sangue de Cristo, recebemos a justiça de Deus que limpa nossa consciência de todo o mal em que vivemos, e então vivemos para servir a Deus. Somos salvos pela graça por meio da fé, e isso não pode vir de nós, mas é um presente concedido por Deus (Efésios 2:8-10).
Antes da morte de Jesus Cristo na cruz, todo esse ritual ainda era uma promessa. Adão e Eva e todos os que viveram antes de Cristo não morreram porque seus pecados ficaram impunes. Eles deveriam morrer, mas não morreram porque Deus deu-lhes um perdão pré-datado. Por isso, a nova aliança era um testamento que Deus fez, mas que ainda não havia sido validado porque Cristo não havia morrido (Hebreus 9:17). Porém, quando Cristo morreu na cruz e ressuscitou, Ele voltou aos céus e entrou no Santuário Celestial para ministrar a Sua justiça em favor de todo o que nEle crê (Hebreus 9:24-28).
Nesse momento, o perdão dado por Deus foi visivelmente garantido. Quando Jesus Se tornou Sacerdote, depois de se oferecer como sacrifício, o testamento anunciado pela antiga aliança entrou em vigor. A partir daí, a antiga aliança deixou de vigorar pois o sangue derramado por Cristo para a salvação do pecador inaugurou uma superior aliança (Hebreus 8:6). Jesus morreu uma única vez para garantir a nossa herança e nos aperfeiçoar pela santificação (Hebreus 10:12-14). Nesse momento, Jesus assumiu sobre si a iniquidade de todos nós. Jesus não só garantiu o perdão definitivo a todos que viveram antes dEle, mas também para todos os que viriam a crer em Cristo nas gerações posteriores. Por meio desse sacrifício, somos justificados, santificados e aperfeiçoados com glória cada vez maior, tendo em nossa vida o poder do Espírito (2 Coríntios 3:18).
Amigo leitor, esse testamento tem efeito personalíssimo, porque é o próprio Deus do Universo, feito homem, quem nos lega essa herança. Ele tem efeito jurídico, porque, por meio da sua aliança, somos declarados justos diante de todo o Universo. Esse testamento tem efeito irrevogável, porque ele foi sancionado sobre a lei da vida que rege o Universo, e que Deus quer tirar da pedra e escrever diariamente no nosso coração.
Querido amigo, você foi salvo na Cruz do Calvário. A sua herança já foi garantida. Jesus hoje está no Santuário Celestial intercedendo por você para garantir a cada dia a sua santificação.
“E assim também, como Cristo se ofereceu de uma vez para sempre para tirar de nós os pecados, aparecerá uma segunda vez, sem pecado aos que O aguardam para a salvação” (Hebreus 9:28 – tradução livre). Aceite essa herança e desfrute da paz de Deus que excede todo entendimento e guarda o seu coração em Cristo Jesus (Filipenses 4:7).
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Denis Versiani é Mestre em Teologia.