Significado e importância da oração
deus
Quando reduzimos a oração a uma mera mágica, nós trivializamos Deus, criamos uma imagem e conceito caricato de Deus.
Pr. Adolfo Suárez*
Ao longo dos séculos, cristãos sinceros têm usado o recurso da oração para nutrir comunhão com Deus e obter dEle orientação para a caminhada diária. Mas, qual o significado da oração? Qual sua importância? Como orar?
O que a oração não é?
Às vezes é proveitoso entender algo por aquilo que esse algo não é. Vamos fazer isso com a oração a fim de entende-la um pouco melhor.1
Em primeiro lugar, oração não é mágica, uma espécie de palavra ou gesto que garante o resultado que esperamos. Quando reduzimos a oração a uma mera mágica, nós trivializamos Deus, criamos uma imagem e conceito caricato de Deus. Quando Jesus Cristo nos ensinou que, se pedíssemos em Seu nome, Ele atenderia ao nosso pedido (João 14:13), Ele certamente estava falando de algo muito mais profundo do que apenas fórmulas ou receitas que, magicamente, conduzem a um resultado. Ele estava falando de Seu caráter como padrão e referência para a oração eficaz.
Além disso, a oração não é algo que depende de um comportamento extra, melhor, ou de uma espiritualidade extra. Não é algo que depende de nós. A Bíblia é clara em afirmar que na face da Terra “não há um justo sequer” (Romanos 3:10). Ao contrário, a bondade de Deus depende exclusivamente de Sua graça (Efésios 2:8).
Em terceiro lugar, a oração não é algo que pode ser facilmente compreendido. De fato, não podemos sistematizar, prever ou condicionar o modo como Deus trabalha (João 3:8). Podemos até partilhar com Deus nossas expectativas quanto às nossas orações, mas o modo como Ele responderá depende de Seu poder, Sua criatividade, Sua vontade. Como diz Ellen White, “nosso Pai celeste tem mil maneiras de nos prover as necessidades, das quais nada sabemos. Os que aceitam como princípio dar lugar supremo ao serviço de Deus verão desvanecidas as perplexidades e terão caminho plano diante de si”.2
Conversar com Deus
O Dr. Bernard Lall alerta que muitas pessoas “consideram a oração um processo de mão única”.3 Por causa dessa compreensão, trinta segundos ou um minuto de monólogo insosso é suficiente para começar ou terminar o dia. Afinal, orar é apenas dirigir a palavra ao Criador do Universo. Nada pode ser mais mentiroso do que este conceito da oração como processo de mão única.
Na verdade, a oração é um processo comunicacional de mão dupla, descrito cabalmente por Davi: “De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã te apresento a minha oração e fico esperando” (Salmo 5:3). Dois aspectos podem ser destacados da expressão davídica a respeito da oração: falamos a Deus e Ele nos fala. Essa verdade foi também realçada pelo profeta Jeremias: “Invoca-me, e te responderei” (33:3). De modo que a oração é uma conversa com Deus, que requer tempo e disposição. Mas, como ouvir a voz de Deus?
Ellen White afirma: “Far-nos-ia bem passar diariamente uma hora a refletir sobre a vida de Jesus. Deveremos tomá-la ponto por ponto, e deixar que a imaginação se apodere de cada cena, especialmente as finais. Ao meditar assim em Seu grande sacrifício por nós, nossa confiança nEle será mais constante, nosso amor vivificado, e seremos mais profundamente imbuídos de Seu espírito. Se queremos ser salvos afinal, teremos de aprender aos pés da cruz a lição de arrependimento e humilhação”.4
Como ouvir a voz de Deus? Para esta pergunta a resposta é simples e direta: Precisamos dedicar tempo de qualidade e quantidade à oração; nesse processo, certamente nossa disposição será melhorada. Só assim teremos condições de discernir a voz de Deus.
O que conversar com Deus?
No processo de iniciar uma amizade com Deus, muitos cristãos enfrentam este dilema: “Não consigo orar durante muito tempo. Um ou dois minutos são suficientes; não tenho mais assunto para isso…”. Creio que esta é a realidade de muitas pessoas. O que fazer?
No processo de formação e cultivo do discipulado, a Bíblia ocupa lugar fundamental. Então, sugiro que, além de tratar de questões particulares da vida, a oração deveria se sustentar num diálogo baseado na Palavra de Deus. E podemos fazer isso de diversas formas. Uma delas é fazendo perguntas a Deus, e permitindo que o Espírito Santo nos responda mediante a Escritura.
Vamos praticar isso: após ler o capítulo ou versículos escolhidos para seu culto pessoal, comece uma conversa com Deus fazendo-lhe as seguintes perguntas:
> O que o Senhor está querendo me dizer neste texto que acabei de ler?
> Por que o Senhor me está dizendo isso?
> De que modo o ensinamento de hoje se aplica à minha vida?
> Como posso praticar e incorporar à minha vida os ensinamentos que aprendi hoje na Sua Palavra?
As perguntas acima se constituem nos elementos de nossa conversa com Deus. E as respostas exigem raciocínio e tempo. Cuide para que as resposta não sejam meramente subjetivas, mas que se fundamentem no texto lido, e “traduzido” a nós pelo mesmo Espírito Santo que o revelou ao escritor bíblico. E lembre que a oração é um processo comunicacional de mão dupla: falamos a Deus e Ele nos fala. Não permitamos que a oração seja tão rápida e apressada a ponto de deixarmos Deus, o nosso Criador, falando sozinho, enquanto nós lhe damos as costas, porque não aprendemos a dar-lhe tempo de qualidade e quantidade.
O exemplo de Jesus Cristo
Jesus Cristo é nosso maior e melhor exemplo de uma vida de oração. Podemos aprender muitas coisas com Ele como Seus discípulos, mas eu quero destacar apenas três aspectos de Sua vida de oração.5
Em primeiro lugar, Jesus orava a Deus como Seu Pai, e usava o termo abba, mostrando que Ele se considerava um filho querido de Deus. Aprendemos com isto que precisamos ter intimidade com Deus. Muitas orações não passam de monólogos friamente formais justamente porque não conhecemos nosso Pai, não temos familiaridade com o Deus a quem falamos.
Em segundo lugar aprendemos a dependência humilde e submissão obediente de Jesus a Seu Pai. Isso é evidenciado em texto como Mateus 26:53, João 18:11, e Lucas 22:42. A atitude de humilde submissão e dependência é fundamental para aceitar a vontade de Deus, especialmente quando Suas respostas às nossas orações não são exatamente aquilo que esperávamos.
Em terceiro lugar, Jesus nos ensina Seu conhecimento da Palavra de Deus. Seja no deserto da tentação, ou no diálogo com fariseus, e mesmo na instrução aos Seus discípulos, Jesus Cristo demonstrou pleno conhecimento da Escritura, e esse conhecimento certamente se constitui na base de Seu relacionamento com o Pai. Não é possível orar com correção, e submeter-se à vontade de Deus, se não conhecermos Sua Palavra. Orações poderosas são sempre sustentadas em claro conhecimento da Bíblia Sagrada.
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* Adolfo Suárez. Reitor do SALT-DSA. Pastor, teólogo e educador. Doutor e Mestre em Ciências da Religião. Pós-Doutor em Teologia. Bacharel em Teologia e Licenciado em Pedagogia. Professor de Pós-Graduação na Faculdade de Teologia no UNASP-EC. Visiting professor do programa Master in Leadership, da Andrews University. Autor de diversos livros. Membro da Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.
Referências:
1 As ideias a seguir foram adaptadas de Tony Campolo. Following Jesus Without Embarrassing God. Dallas: Word Publishing, 1997, p. 54-63.
2 Ellen G. White. A Ciência do Bom Viver. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2002, p. 481.
3 Bernard M. Lall. Prayer: Heavens’s Unlimited Power at Our Disposal. Berrien Springs, Michigan: Geetanjali Publishers, 1987, p. 3.
4 Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000, p. 83.
5 Adaptado de W. Bingham Hunter. The God Who Hears, p. 184 a 186.