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SEMANA SANTA: HISTÓRIA E IMPLICAÇÕES

santa ceia

A Semana Santa é uma das celebrações cristãs anuais mais importantes e solenes do cristianismo. Nesta semana, os cristãos comemoram os eventos finais da vida de Cristo, desde Sua entrada triunfal em Jerusalém até Sua ressurreição, uma semana depois. O nome “Semana Santa”, foi usado no século IV por Atanásio, bispo de Alexandria, e por Epifânio, bispo de Constância. Originalmente, era apenas observado o fim de semana em que Cristo morrera e ressuscitara, principalmente no domingo. Posteriormente, foram acrescentados outros dias para completar a semana, como é comemorado no presente. Com exceção do serviço de comunhão, a Bíblia não ordena a comemoração desta semana ou os eventos que ocorreram durante a semana anterior à crucificação de Cristo. Esse artigo examina os conceitos históricos, teológicos e ministeriais associados à Semana Santa.

 

A Semana Santa, conhecida também como semana da Paixão, é a festividade cristã anual mais antiga2 e uma das celebrações mais festejadas tanto pelos cristãos quanto pelo mundo comercial. Milhões de dólares são vendidos anualmente em roupas, doces, chocolates e outros produtos durante essa semana. Estima-se que durante o ano de 2013 as vendas associadas a essa festa passaram dos 17 milhões de dólares, somente nos Estados Unidos. A Semana Santa comemora os eventos da última semana de vida de Jesus na
Terra. Esse evento começa com o Domingo de Ramos4 e celebra outros dias5 importantes, tais como a Quinta-feira Santa, que relembra os eventos entre Jesus e seus discípulos no cenáculo; a Sexta-feira Santa, que comemora a morte de Jesus, considerado o dia mais solene da semana, em razão do sacrifício expiatório de Cristo pelos pecados do mundo; e finalmente o Domingo da Ressurreição, conhecido também como domingo de Páscoa, que celebra a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.

Semana Santa e a Páscoa
A morte de Cristo ocorreu durante a Festa da Páscoa, uma das três celebrações anuais estabelecidas por Deus no Antigo Testamento.8 A Páscoa comemorava a libertação do povo israelita da escravidão egípcia.9 Essa festa começava no dia 14 do mês de Abib10, o primeiro mês do ano (Êx. 12:2, 14; 13:4), que “geralmente corresponde ao mês de abril do nosso calendário”.11 Jesus, como havia feito em anos anteriores, participou da celebração, uma festa da qual todo homem deveria “comparecer diante do Senhor soberano” (Êx. 23:14-17). A festa começava com o sacrifício
noturno de um cordeiro que era comido com ervas amargas e pão sem fermento (Êx. 12:8). Além de ser um memorial do Êxodo – a saída do povo de Deus do Egito, o sacrifício da Páscoa simbolizava o sacrifício de Cristo, “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29).12 Ellen G. White indica que o sangue espalhado nos umbrais e na verga da porta das casas durante a Páscoa “prenunciava o sangue expiatório de Cristo”.13 A Bíblia afirma que os primeiros cristãos eram judeus que evangelizavam outras pessoas, incluindo judeus, e que conheciam bem as festas e leis do Antigo Testamento, especialmente as do Pentateuco. Uma das primeiras instruções para a evangelização que Cristo deu a seus discípulos foi para pregarem primeiro às “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt. 10:6). Não é de se admirar que os primeiros cristãos tenham incorporado em suas festividades religiosas anuais algumas práticas judaicas, incluindo algumas práticas associadas com a festa judaica da Páscoa. Gwynne discute algumas semelhanças entre as práticas religiosas de Israel no Antigo Testamento e as práticas religiosas da igreja cristã primitiva. Algumas semelhanças observadas por este autor estão relacionadas com a ordem do culto, as orações e o papel do louvor na experiência judaico-cristã. A conexão da Festa da Páscoa com Cristo é destacada por Paulo, que apresenta o Senhor como “nosso cordeiro pascal” sacrificado por nós, convidando aos leitores a se livrarem do “velho fermento” a fim de que possam ser “nova massa” em Cristo (1Co. 5:7).15 O apóstolo João também faz conexão entre o cordeiro da Páscoa e Cristo, indicando que nenhum osso da vítima poderia ser quebrado (Êx. 12:46; Jo. 19:36). Assim como a Páscoa é uma das festas anuais mais importantes para os judeus por representar a libertação da escravidão egípcia, também a Semana Santa é para os cristãos, por representar a libertação do pecado pelo sacrifício de Cristo.

A data da Semana Santa

A Festa da Páscoa bíblica sempre começava no dia 14 do primeiro mês, Abib, sem importar o dia da semana em que caísse. De acordo com os evangelhos, Cristo morreu em uma sexta-feira, o dia de preparação para a observância do sábado (Lc. 23:54) e ressuscitou no domingo, o primeiro dia da semana (Lc. 24:1). Estudos cronológicos da Páscoa em que Cristo morreu afirmam que a entrada triunfal de Jesus ocorreu no domingo 9 de Abib, que Ele morreu na sexta-feira 14, e que ressuscitou no domingo 16 do mesmo mês.16 O fato de que o dia de início da Páscoa em um ano não coincide sempre com o mesmo dia da semana em outros anos, causou muita controvérsia sobre a observância da Semana Santa. Era impossível que o dia 9 de Abib sempre caísse no domingo, como aconteceu no passado durante a Páscoa de Cristo; entretanto muitos cristãos acreditavam que a Semana Santa deveria ser observada de domingo a domingo, como aconteceu nos dias de Jesus, sem importar o dia especificado pelo calendário judaico. O historiador Eusébio menciona que as igrejas da Ásia Menor preferiram celebrar a ressurreição de Cristo conforme o calendário judaico, o que significava que o dia da ressurreição seria celebrado também em outros dias da semana. Por outro lado, as igrejas romanas queriam celebrar a ressurreição de Cristo conforme o calendário judaico no domingo mais próximo do dia 14 de Nisan, o início da Páscoa judaica, não necessariamente no dia que o calendário indicava.

Depois de muita discussão e debate, o Concílio de Niceia (325 d.C.) determinou que a ressurreição de Cristo deveria ser celebrada sempre em um domingo próximo à data da Páscoa bíblica, sem importar a data do ano.18 A decisão de Niceia levou muitos anos para ser adotada como uma prática em todas as regiões cristãs do Império Romano. Meio século após o Concílio de Niceia, em uma carta ao bispo de Aemilia (386d.C.), Ambrósio ainda argumentava a favor da celebração da ressurreição de Cristo no domingo, não importando as estipulações apresentadas no Pentateuco. Evidentemente, a decisão de Niceia não havia encerrado o assunto, e havia bispos confusos que queriam saber a opinião de Ambrósio, um líder cristão de influência, para tomar uma decisão final sobre o dia para celebrar a ressurreição de Cristo. O principal argumento de Ambrósio para celebrar a ressurreição de Cristo, sempre aos domingos, era baseado na tradição, não na teologia bíblica. Além disso, Ambrósio
foi um dos os primeiros escritores a apresentar a Jesus como o cumprimento da Lei e, portanto, acima das disposições da lei mosaica: “Devemos guardar a lei relacionada à Semana Santa de tal forma que não observemos o 14 [de Nisan] como o dia da ressurreição; esse dia, ou um dia próximo, é o dia da Paixão, porque a festa da ressurreição é guardada durante o dia do Senhor. […] Para termos segurança, a Lei foi dada a Moisés; mas a graça e a paz vieram por Jesus Cristo”.1918 Richert, Scott P. “How is the date of Easter calculated?”.

Hoje em dia a Semana Santa segue a tradição católica de iniciar a celebração em um domingo, com a comemoração da entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, concluindo no domingo seguinte com a celebração de Sua ressurreição. Deve-se notar que a referência de Ambrósio ao domingo como sendo o dia do Senhor indica que já em seus dias a observância do sábado, como dia de descanso, havia sido substituída pelo domingo, não por ordem divina, mas por tradição. Para a Igreja Católica, a vitória de Cristo sobre a morte no domingo tornou-se um evento tão importante que, com o passar dos anos, esse dia foi adotado como o dia de descanso semanal, deixando de lado o dia de adoração bíblico, o sábado.
No entanto, devemos observar que os discípulos de Cristo continuaram observando o dia de repouso bíblico – o sábado – depois de Sua morte (Lc. 23:50-56; 24:1-3) e ressurreição (At. 15:21; 16:13; 17:2; 18:4). Teologicamente, a observância do domingo como dia de repouso não tem apoio bíblico. A observância do domingo como dia de repouso recebeu um grande impulso no século IV com um decreto do imperador Constantino proibindo certos trabalhos nesse dia. A mudança do sábado bíblico para o domingo foi concretizada com as bulas do papa Gregório IX (1234 d.C.). Nelas, ordenava-se oficialmente a observância do domingo como dia de repouso.

O desenvolvimento da Semana Santa
Os primeiros cristãos não mostraram interesse litúrgico a todos os eventos associados à morte de Cristo. Seu interesse estava focado na morte expiatória de Cristo, sua ressurreição e a redenção que Ele concedia a seus seguidores. Pedro e Paulo, com eloquência singular, proclamaram esses eventos (At. 2:29-38; 1Co. 1:23; Rm. 6:3-7).
Não foi até o século IV que a Semana Santa começou a ser celebrada em Jerusalém com procissões e espetáculos onde eram dramatizados os acontecimentos ocorridos durante a última semana de Cristo na Terra. Naquele século, a celebração se tornou uma festa de oito dias, em vez de uma celebração apenas de um final de semana. Jerusalém foi o lugar ideal para o início dessa festa semanal, pois naquela época já havia altares erguidos nos lugares-chave onde presumivelmente aconteceram os últimos acontecimentos da vida de Cristo. O Domingo de Ramos, a
Quinta-feira Santa, a sexta-feira da Crucificação e o Domingo da Ressurreição foram os dias mais proeminentes da Semana Santa naquele século. Historicamente, o local da crucificação e onde Cristo foi sepultado foram os mais visitados desde então. Descrições detalhadas da Semana Santa celebrada em Jerusalém nesse período são relatadas no diário de uma freira espanhola chamada Egéria, que fez uma longa peregrinação à Terra Santa entre 381 e 384 d.C. Segundo essa peregrina, a semana começava no domingo com uma procissão que saía do Monte das Oliveiras para
Jerusalém, na qual as crianças agitavam folhas de palmeira ao entrar na cidade. O bispo da cidade fazia o papel de Jesus. Egéria acrescentou em seu diário que na quinta-feira era celebrada a eucaristia e que na sexta-feira da crucificação eram
dedicadas quatro horas para a veneração.Viajar para Jerusalém na época do Império Romano, quando os cristãos eram perseguidos, era uma atividade deixada de lado pela maioria dos seguidores de Cristo. O Edito de Milão, que proclamou a tolerância religiosa e “garantiu os direitos legais aos cristãos, incluindo o direito de construir igrejas”, atraiu muitos peregrinos a Jerusalém durante a Semana Santa, de forma que as dramatizações dessa semana foram disseminadas para outras comunidades distantes de Jerusalém. No século VI, as igrejas de Roma e Constantinopla haviam adotado as liturgias associadas com a Semana Santa e as disseminaram para todas as igrejas locais de sua vasta
jurisdição.23 Em 1956, a Semana Santa foi amplamente restaurada pelo papa Pio XII e mais tarde pelo Conselho Vaticano II (1962-1965).

Implicações teológicas e ministeriais
Além da influência que a Semana Santa teve sobre a mudança de observância do dia de repouso bíblico, outros eventos associados com a última semana de vida de Cristo na Terra têm tido implicações teológicas e ministeriais significativas. Algumas dessas implicações são discutidas nos parágrafos seguintes.

A BASE PARA A CERIMÔNIA DA COMUNHÃO
Os evangelhos sinóticos revelam que a última ceia que Jesus teve com seus discípulos, conhecida hoje como Santa Ceia ou Cerimônia da Comunhão foi a ceia de Páscoa prescrita por Deus, por meio de Moisés, na qual se comia a carne do cordeiro sacrificado com “pães asmos e ervas amargas” (Êx. 12:8).25 Esse conceito é confirmado por outros autores que afirmam que na mesma noite em que Jesus foi crucificado, “ele instituiu a observância da Ceia do Senhor em comemoração à sua morte”. Paralelismos feitos por alguns autores entre a Páscoa do Antigo Testamento e a Semana Santa argumentam que o cálice que Jesus usou durante Sua última ceia foi o cálice que se reservava para a Páscoa, e que o hino cantado com os discípulos para concluir a ceia foi Hallel, o mesmo hino que os judeus cantavam para encerrar a ceia de Páscoa.

OPORTUNIDADE DE EVANGELIZAÇÃO
Na Festa dos Pães Asmos, conhecida como Páscoa, a história do Êxodo deveria ser revivida (Êx. 13:8). A cada ano, os pais deveriam lembrar seus filhos de como Deus libertou milagrosamente o povo de Israel da escravidão egípcia. Isso deveria ser
feito ao se comer a ceia de Páscoa com ervas amargas (Êx. 12:1-12; 13:8-14). A Semana Santa apresenta ao cristianismo uma excelente oportunidade de ensinar ao mundo sobre a morte, ressurreição e ministério de Cristo. De acordo com o apóstolo Paulo, o poder de Cristo sobre a morte e a promessa de Sua segunda vinda são o fundamento da fé cristã (1Co. 15:12-17; 1Ts. 4:13-18).

CONFIANÇA NO PODER DE DEUS
Os eventos milagrosos associados ao Êxodo apontam para o poder de Deus e são a base pela qual muitas pessoas aceitaram o poder do Deus de Israel. Ellen White diz que muitos egípcios reconheceram que Javé era o verdadeiro Deus ao presenciarem “os sinais e prodígios” que Deus fez antes do Êxodo.28 A Páscoa não apenasarticulou o poder de Deus ao libertar seus seguidores da escravidão egípcia, mas serviu como “fundamento da esperança de seu povo”.29 Essa esperança no poder libertador de Deus foi abraçada pela igreja primitiva e tem sido a base da fé cristã ao longo dos séculos.

Conclusão
Os eventos que Jesus viveu na semana anterior à sua crucifixão, desde a entrada triunfal em Jerusalém até sua ressurreição, são de extrema importância para o cristianismo. No entanto, a Bíblia não indica que esta semana deve ser observada pelos seguidores de Cristo, tal como
é celebrada por algumas igrejas cristãs, do Domingo de Ramos ao Domingo da Ressurreição. A despeito dessa realidade bíblica, as celebrações apresentam aos adventistas do sétimo dia uma oportunidade valiosa de proclamar a vitória de Cristo sobre o pecado e a promessa da Segunda Vinda. O túmulo vazio evoca uma mensagem de esperança tanto para vivos quanto para aqueles que morreram acreditando Naquele que ressuscitou dos mortos.

 

Talley, Thomas. “A Christian Heorlology” in Times of Celebration, Power, David (ed.) (New York: Seabury Press, 1981), p.15.

 

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