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Por que Melquisedeque Ofereceu Pão e Vinho a Abraão?

Jesus.

Datada por volta de 1800 aC esta é a primeira vez em que o pão e o vinho são relacionados a uma bênção sacerdotal.

Em meio a escuridão espiritual e moral que permeava o mundo antigo pós-diluviano, Deus chamou a Abraão, para seguir os seus caminhos. Em sua aliança, ele prometeu que o patriarca seria o pai de uma grande nação que carregaria a linhagem do Messias Salvador (Gênesis 12:1-9). Se Abraão seguisse os caminhos do Senhor, ele seria uma bênção a todas as famílias da Terra. Deus chamou o patriarca para peregrinar na terra que lhe fora prometida, em Canaã.

Nesse tempo, Canaã era habitada pelos descendentes de Cam, filho de Noé. Eram cananeus, sidônios, amorreus, heveus, girgaseus e jebuseus, povos que se separaram de Deus e rapidamente mergulharam na decadência moral e espiritual, com as piores e mais cruéis formas de culto idólatra.

Embora essas nações estivessem em escuridão moral, o nome de Deus não havia sido esquecido. Ainda existiam pessoas e comunidades que adoravam unicamente a Deus, mostrando que o verdadeiro culto ainda permanecia em Canaã. Um claro exemplo é o de “Melquisedeque, rei de Salém” (Gênesis 15:18). O seu nome, em hebraico, significa “Meu Rei é Justo” (Hebreus 7:2).

Em Canaã, o sistema de governo era o de cidades-estado, em que cada cidade tinha uma administração independente. Melquisedeque era rei de Salém, cidade-estado comumente relacionada a Jerusalém, já era mencionada nos escritos egípcios do século XIX a.C. Salém é uma variação da palavra “shalom” que significa “paz”. Em Hebreus 7:2, Melquisedeque, rei de Salém também é chamado de “rei da paz”.

Como rei e sacerdote, o governo e ministério de Melquisedeque provavelmente era respeitado por todos os reis ao redor. Bera, o rei de Sodoma permitiu que Melquisedeque tomasse a frente no reencontro com Abraão depois da guerra (Gênesis 14:20-24), provavelmente reconhecendo a importância do seu sacerdócio.

Tanto na narrativa de Gênesis quanto da epístola aos Hebreus, Melquisedeque é descrito como uma figura histórica simbólica. Diferente de todos os personagens bíblicos preeminentes, Melquisedeque não tem citada sua linhagem genealógica (Hebreus 7:3). Isso é importante porque os sacerdotes levitas precisavam provar seu ministério por meio da genealogia de Arão. Embora o rei de Salém tenha tido pai e mãe, eles não são citados. Sua idade e sua morte também não são citadas. Além disso, Abraão, o pai do povo de Israel deu o dízimo a Melquisedeque (Gênesis 14:20), provando aqui a superioridade e preeminência do seu ministério sacerdotal sobre os levitas.

Essas são figuras de linguagem usadas pelo autor de Hebreus para ilustrar que o ministério sacerdotal de Melquisedeque, rei de Salém, é um tipo, um modelo do ministério de Jesus que, mesmo nascendo de mulher, já era pré-existente na forma de Deus e, como Filho do Homem, se ofereceu de uma vez por todas em sacrifício para a salvação eterna de todo o que nele crê. Jesus é o “Rei da paz”, “Rei justo” e nosso “Sumo Sacerdote” para sempre, que exerce um sacerdócio superior ao dos levitas, que se cumpriu em seu sacrifício.

A cena descrita em Gênesis 14 é a da guerra da coalizão de Abraão, contra Quedorlaomer e seus aliados, que atacaram Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar, levando cativo o seu povo e seus bens, incluindo Ló, sobrinho de Abraão. A guerra foi vencida por Abraão e os reis das cinco cidades citadas, recuperando todos os bens e a população ilesa. Na volta, Abraão se reencontra com o rei de Sodoma no vale de Savé. Este dá lugar para que Melquisedeque realize um encontro simbólico.

“Melquisedeque, rei de Salém, e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho e abençoou Abrão, dizendo: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, Criador dos céus e da terra. E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os seus inimigos em suas mãos” (Gênesis 14:18-20). Esta cena, ocorrida por volta de 1800 aC é a primeira em que o pão e o vinho são relacionados a uma bênção sacerdotal. Não se pode especular muito sobre o que esse evento significa. Mas, pode ser que essa refeição seja um sinal de que Deus estava abençoando a Abraão e selando visivelmente sua aliança com o patriarca diante das nações de Canaã. Essa era uma refeição comumente oferecida à realeza (1 Samuel 16:20). Também foi a refeição determinada por Deus, na lei mosaica, a ser levada como oferta nos sacrifícios, holocaustos e ofertas queimadas em cumprimento de um voto ou oferta voluntária (Números 15:2-10).

Portanto pode ser que o gesto de Melquisedeque seja apenas uma refeição para reavivar as forças do patriarca recém chegado da guerra; ou indique um selamento visível da aliança que Deus fez com Abraão. Anos mais tarde, ao Deus reafirmar sua aliança, Abraão creu e isso lhe foi imputado como justiça (Gênesis 15).

O fato é que esse rito, que apareceu em Gênesis 14:18-20 se tornou um costume para Israel no ministério levita, sombra do ministério sacerdotal de Cristo. No “kidush” pão e o vinho estavam presentes nas refeições familiares nas festas israelitas. Esses elementos se tornaram a base da Santa Ceia que se tornou o símbolo da renovação da aliança entre a igreja e Deus após o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário. O pão é o símbolo do corpo de Cristo e o vinho, símbolo do seu sangue derramado para justificar o pecador (Mateus 26:26-30; veja 1 Coríntios 11:23-25). Vale a pena ressaltar que o pão e o vinho não adquiriram esse significado na Santa Ceia. Já no santuário de Israel, esses elementos possuíam o significado sacrifical do Messias que libertaria Israel. É claro que não podemos dizer que a refeição que Melquisedeque deu a Abraão claramente tipificasse o sacrifício de Cristo, mas devemos admitir que possui um significado especial.

Agora, vamos nos deter à questão do vinho. A palavra hebraica usada para “vinho” é “yayin”, um termo genérico que designa qualquer bebida proveniente da uva, seja o vinho alcoólico ou o puro suco da uva. Infelizmente, muitos cristãos utilizam essa e outras passagens bíblicas em que aparece o “vinho” para justificar o consumo de bebidas alcoólicas. Para resolver esse impasse, precisamos entender claramente o que a Bíblia diz a respeito do vinho.

A Bíblia mostra claramente que Deus é contra o consumo de bebidas alcoólicas. “O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoroçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio” (Provérbios 20:1). Salomão diz que todos os problemas morais, éticos e físicos são atribuídos aos “que se demoram em beber vinho, [e] os que andam buscando bebida misturada. Não se deixe atrair pelo vinho quando está vermelho, quando cintila no copo e escorre suavemente! No fim, ele morde como serpente e envenena como víbora. Seus olhos verão coisas estranhas, e sua mente imaginará coisas distorcidas…” (veja Provérbios 23:29-35).

A Bíblia deixa claro os efeitos do vinho alcoólico sobre os próprios sacerdotes de Jerusalém durante o período de apostasia iminente ao cativeiro babilônico (Isaías 28:7, 8). Noé se embriagou com vinho e mostrou a sua nudez, algo considerado pecado por Deus (Gênesis 9:20, 21; veja Gênesis 3:7; Levítico 18:1-18). Paulo aconselha a Timóteo e aos ministros que não sejam apegados ao vinho (1 Timóteo 3:3).

Ora, já que o texto bíblico não define qual é a qualidade do vinho para cada situação relatada, precisamos seguir pelo princípio apresentado por Deus. Será que Deus teria prazer em ver seus filhos embriagados, alvoroçados, confusos e perdidos? Seria Jesus capaz de se embebedar com seus discípulos na Santa Ceia? Será que, no casamento em Caná, Jesus produziria mais de 600 litros de bebida alcoólica para ver seus amigos mergulhando na indecência e embriaguez? Será que, num ritual tão sagrado como o do santuário israelita, ministros de Deus levariam o culto sagrado à desordem?

É claro que Melquisedeque não ofereceu a Abraão vinho alcoólico. É claro que Jesus ordenou à sua igreja que use suco puro da uva na Santa Ceia. “Deus não é Deus de desordem, mas de paz.” Por isso, seja no culto, seja na vida religiosa ou secular, “tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1 Coríntios 14:33, 40). Caro leitor, não há desculpas para justificar o consumo do álcool, mesmo que socialmente. Saiba que isso é pecado diante de Deus, e que o seu Salvador não se agrada que você destrua o seu corpo, que é templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19). Permita que Deus habite em sua vida, num corpo limpo e saudável, apresentado como sacrifício vivo, santo e agradável a ele, num culto racional.

Deus abençoe você!

Equipe Biblia.com.br

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Denis Versiani é Mestre em Teologia Pastoral.

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