Oséias e a Angústia de Amar – Isso Realmente Aconteceu?
perdão
Deus é um pai de amor que anseia abraçar seus filhos, colocar uma capa sobre eles e um anel em seus dedos. Por isso, Deus foi tão duro em suas repreensões para Israel e Judá. Porque ele queria livrá-los das duras consequências dos seus próprios erros.
Denis Versiani
O livro de Oséias conta uma história de amor constrangedora, e com base nessa história, faz clamores agonizantes e cheios de angústia ao reino de Israel, diante da sua situação de terrível apostasia. Oséias, variante dos nomes Josué e Jesus, significa “Yahweh salva”. Esse nome dá um significado profundo ao ministério do profeta, enviado por Deus para alertar Israel da destruição iminente.
O período aproximado do ministério de Oséias foi de 750 a 725 a.C., período dos reis Jeroboão II, Zacarias, Salim, Pacaías, Peca, Menaém e Oséias, rei de mesmo nome e o último de Israel antes da destruição do reino pela Assíria. Desesperadora era a condição espiritual de Israel. Além de seriamente ameaçado pelos assírios, de quem buscaram o apoio para suas confusões políticas, Israel estava afundado na idolatria desde que Jeroboão I estabeleceu o culto aos bezerros de ouro de Betel e Dã. A nação se entregou mais e mais à adoração dos falsos deuses importados das nações inimigas. O culto a Baal e Astarote (ou Aserá) caracterizavam a crescente degradação do povo, mediante sacrifício de crianças vivas e prostituição cultual, com rituais de sexo e sensualidade. A idolatria estava tão enraizada que a situação do reino do norte era desesperadora. Nesse contexto, o livro de Oséias se torna um apelo agoniado pelo arrependimento e a conversão ao verdadeiro e único Deus nos momentos finais do reino de Israel.
No capítulo 1, Deus manda que Oséias se case com uma prostituta. Oséias se apaixonou por Gômer, filha de Diblaim. O profeta foi chamado a amar alguém que já tinha uma reputação manchada pela prostituição. As mulheres já não eram tão valorizadas na cultura decadente de Israel. Essa situação se tornava ainda mais grave quando era o caso de uma prostituta, que vivia à margem da sociedade. Oséias teve com ela três filhos. Um garotinho forte chamado Jezreel (“Dispersão”), uma linda garotinha chamada Lo-Ru’amah (“Não Amada”), e outro belo varão chamado Lo-Ami (“Não Meu Povo”). Esses nomes vergonhosos teriam que ser carregados pelos filhos de Oséias porque, ao longo desses anos, o povo havia abandonado a Deus; e, depois de muito correr atrás dos seus filhos, Deus finalmente os abandonaria. Eles seriam dispersos, isentos do amor de Deus e finalmente rejeitados.
O relacionamento entre Deus e Israel é como pai e filho. Um filho não apanha do seu pai porque o pai é mau. Um filho apanha do seu pai porque ele escolheu apanhar. Afinal, depois de tantas advertências não ouvidas de que o que ele estava fazendo era errado, e resultaria numa surra, o filho estava apenas recebendo o resultado da sua escolha. Foi o que aconteceu com Israel, que recebeu essa advertência dada no Sinai e repetida ao longo de oitocentos anos.
Pelos filhos de Oséias, Deus repreendia seriamente o povo. Deus despojaria a “mãe de Israel”, ou seja, a nação de todo ouro, prata, trigo, vinho e óleo com as quais ela se prostituiu no culto a Baal. Essas eram riquezas que Deus lhe havia dado (Oséias 2:8), e agora, as reteria. Quando a “mãe” corresse, nua e envergonhada, atrás dos seus amantes (v. 10), privada e desolada até mesmo do culto a Deus, ela então se daria conta do seu desamparo total por ter-se esquecido do Senhor (v. 13). Mas, depois da dura repreensão, o Salvador a atrairia novamente, e lhe falaria ao coração (v. 14). Deus novamente se casaria com ela, e a chamaria de amada, favorecida, seu povo. Deus reuniria novamente o seu povo.
Muito provavelmente, a mágoa e a angústia de Deus pela nação de Israel, sua esposa adultera e idólatra era compartilhada por Oséias. Sozinho, com três filhos pequenos para criar, abandonado pela mulher que Deus chamou para amar, a dor e a revolta de Oséias era a mesma dor e revolta que Deus tinha em seu coração. Por isso, o capítulo 2 é um desabafo tão “passional” de um Deus apaixonado e desamparado.
O adultério de Gômer, ao voltar para a prostituição e se relacionar sexualmente com outros homens, é o símbolo do adultério espiritual de Israel, ao substituir o sagrado culto ao Deus Criador que os livrou da escravidão do Egito pelo violento e nojento culto a Baal e Astarote. É como se olhassem para o seu libertador, o doador de todas as bênçãos, o seu amigo e guia, e cuspissem em sua cara, virassem-lhe as costas e corressem para satisfazer seus desejos mais imbecis e depravados com um pedaço de madeira, metal ou pedra talhada.
Diante da angústia do profeta por ser ele e seus três filhos abandonado pela esposa, Deus lhe dá uma pesada ordem: “Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e adúltera, como o Senhor ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses e amem bolos de passas. Comprei-a, pois, para mim por quinze peças de prata e um ômer e meio de cevada; e lhe disse: tu esperarás por mim muitos dias; não te prostituirás, nem serás de outro homem; assim também eu esperarei por ti” (Oséias 3:1-3).
Pode ser que Gômer tenha contraído alguma dívida com algum agiota, se vendido como escrava por trabalho ou tenha se associado a algum cafetão, na exploração do ramo sexual. O fato é que Oséias comprou sua própria esposa pelo preço de um escravo, 170g de prata e 330 litros de grãos de cevada (Veja Números 15:11-15). Não era qualquer um que poderia pagar um valor tão alto por alguém. Isso prova que Gômer estava numa situação desesperadora de degradação. Quem sabe os sentimentos que seu coração quebrado carregava ao se ver como a ralé, a escória da sociedade? Provavelmente ela era uma escrava sexual, tratada como lixo, sem qualquer direito ou privilégios. Para conceder um perdão tão caro, é óbvio que Oséias amava muito a sua esposa, e, mesmo que tenha sido ordenado por Deus, seu perdão foi uma profunda demonstração de amor, e um enorme ato de grandeza.
A disposição de Oséias representava a disposição de Deus. O resgate de Gômer representa o resgate de sangue que Deus faria por seu povo, e consequentemente por todos nós, pecadores que adulteraram não só espiritualmente. A dolorosa experiência de Oséias era uma parábola, uma ilustração do amor de Deus, disposto a perdoar um povo que não queria perdão.
Ao ser comprada, Gômer não poderia se unir à família que ela abandonara. Primeiro, ela teria que passar por um período de provação e disciplina que duraria muitos dias. Seria um processo longo e doloroso de purificação, de acordo com a lei de Moisés. A esperança de Oséias é que Gômer entendesse a gravidade de seus atos e o porquê de ela ter chegado àquela situação tão vergonhosa.
Por causa da violência, do roubo, do adultério, da idolatria sistêmica por causa dos bezerros de ouro (Oséias 8:5), Israel estava fadada à destruição total pelos Assírios, em quem eles tanto confiaram. A tribo de Efraim é diversas vezes citada como tendo especialmente se atolado na lama da idolatria. Quando condição política se deteriorou, em vez de Efraim buscar ao Senhor, buscou apoio do império que poucos anos mais tarde destruiria essa tribo (Oséias 5:8-14).
Nem mesmo Judá escapa dos oráculos de Oséias. Embora o culto no Templo de Salomão ainda ocorresse, estava cheio de pompa e vazio cerimonialismo, e a injustiça e idolatria já não causavam surpresa. Por isso, o período de provação de muitos dias de Gômer representa, não só a destruição de Israel como o cativeiro babilônico, onde os judeus permaneceriam por 70 anos deportados de sua amada terra, e do culto no templo de Jerusalém.
Por isso, é que, ao longo dos capítulos posteriores, os oráculos de destruição, cativeiro e abandono da parte de Deus às nações impenitentes se revezam com clamores apaixonados de Deus para que se arrependam dos seus pecados. O livro de Oséias apresenta profecias condicionais em suas repreensões. Se o povo se arrependesse dos seus pecados, Deus operaria a cura. Mas, não foi isso o que aconteceu.
Infelizmente essas profecias se cumpriram, porque Israel, bem como Judá, abandonaram os caminhos do Senhor. “Quando Efraim falava, havia tremor; foi exaltado em Israel, mas ele se fez culpado no tocante a Baal e morreu. As iniquidades de Efraim estão atadas juntas, e o seu pecado está armazenado. Samaria levará sobre si a sua culpa, porque se rebelou contra o seu deus; cairá à espada, seus filhos serão despedaçados, e as suas mulheres grávidas serão abertas pelo meio” (Oséias 13:1, 12, 16).
Quando o povo e os seus líderes políticos e religiosos rejeitaram a mensagem de Oséias, no reinado de Oséias, seu homônimo, o reino sucumbiu à invasão assíria em 722 a.C. Nessa catástrofe, os exércitos de Nínive deportaram boa parte da população, levando-a a outras províncias do império, e colocando pessoas de outras culturas no lugar. Assim, a cultura israelita se perdeu no reino do norte. O único remanescente das dez tribos ficou no reino de Judá. Que fim horrível para uma nação que havia sido escolhida por Deus para ser uma bênção às famílias da terra!
Mas a ira de Deus não se manteria para sempre. “Todavia, o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que não se pode medir nem contar; e acontecerá que, no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo. Os filhos de Judá e os filhos de Israel se congregarão, e constituirão sobre si uma só cabeça, e subirão da terra, porque grande será o dia de Jezreel. Chamai vosso irmão Meu povo, e a vossa irmã Favorecida” (Oséias 1:10, 11).
Não importa o quanto nos afastemos. Não importa quão adúlteros sejamos! Não importam as encrencas, desventuras e problemas em que nos metamos. Deus é um pai de amor que anseia abraçar seus filhos, colocar uma capa sobre eles e um anel em seus dedos. Por isso, Deus foi tão duro em suas repreensões para Israel e Judá. Porque ele queria livrá-los das duras consequências dos seus próprios erros. O mesmo ele faz conosco.
Entenda, amigo, Deus ama os seus filhos e os repreende, assim como um pai faz com o filho a quem ele quer bem. Nossa vida poderia ser bem melhor se seguíssemos as leis de Deus com amor e gratidão pelo que Ele é e faz por nós. Se o nosso comprometimento com a sua vontade, expressa nos Dez Mandamentos fosse mais real, nós desfrutaríamos de bênçãos materiais, físicas e mentais. Não nos sentiríamos sozinhos, largados à escravidão e degradação do pecado.
Mesmo depois de tanta infidelidade e idolatria, mesmo depois de tanta violência, mesmo depois de conscientemente dizer: Eu não quero você como meu Deus, o chamado amoroso de Deus se fez ouvir: “Volta, ó Israel, para o Senhor, teu Deus, porque, pelos teus pecados estás caído… Curarei a sua infidelidade, eu de mim mesmo os amarei, porque a minha ira se apartou deles. Quem é sábio, que entenda estas coisas; quem é prudente, que as saiba, porque os caminhos do Senhor são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão” (Oséias 14: 1, 4, 9).
Se você, amigo, está perdido, volte-se para Deus, que é rico em misericórdia. Ele só esta deixando você mergulhado na sua culpa porque você quer. Ele não vai forçar você a voltar, embora peça insistentemente. Saiba que a graça que criou o Universo e salvou bilhões de pecadores numa cruz só tem uma fraqueza: o poder da sua vontade. Se você negar, ela vai deixar você morrer no seu pecado. Mas, se você aceitar, Deus vai entrar na sua vida e mudar o seu coração, dando a você nova perspectiva de futuro e felicidade eterna.
Deus o abençoe!
Equipe Biblia.com.br
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Denis Versiani é Mestre em Teologia