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Fomo: O Medo De Se Sentir Excluído – E Como Escapar De Ser Fisgado Por Ele

pelas suas pisaduras fomos sarados

 

Hannah Kobayashi, 30 anos, desapareceu em 8 de novembro de 2024. Ela estava em trânsito no Aeroporto Internacional de Los Angeles, vindo do Havaí com destino a Nova York. Apesar de o ex-namorado e sua bagagem terem feito a conexão, ela não embarcou no voo para Nova York. Houve registros de Kobayashi aparecendo em uma área comercial e utilizando o transporte público em Los Angeles nos três dias seguintes. Ela mandou uma mensagem para sua família, amigos e a tia que visitaria em Nova York. Os membros da família presumiram que ela estava a espera de um voo alternativo. Em 11 de novembro, suas mensagens se tornaram enigmáticas e perdeu-se toda a comunicação.1 As câmeras de segurança do aeroporto de Los Angeles a mostraram retirando sua bagagem redirecionada nesse período.2 Alarmada por Kobayashi não ter respondido as mensagens de texto ou telefonemas, sua mãe registrou na polícia o seu desaparecimento no dia seguinte. A família iniciou uma busca, cobriu a área do aeroporto com cartazes, pediu doações pelo GoFundMe e usou o Facebook e o TikTok para pedir ajuda.3 Transtornado, seu pai voou para Los Angeles e a procurou dia e noite durante 13 dias. Incapaz de encontrá-la, tragicamente, ele foi encontrado morto, aparentemente por suicídio, perto do aeroporto em 24 de novembro

Em outra intrigante mudança de rota, a polícia de Los Angeles descobriu que, depois que saiu do aeroporto, Kobayashi comprou uma passagem de ônibus para San Diego, próximo ao México. O vídeo de vigilância mostrou Kobayashi cruzando a fronteira dos Estados Unidos com o México em 12 de novembro, aparentemente bem, sozinha, a pé e com sua bagagem. Ter deixado os EUA, juntamente com a análise de suas postagens nas redes sociais, levou a polícia a concluir que Kobayashi desejava “se afastar da conectividade moderna” e a declarou uma “pessoa desaparecida voluntariamente”.4 Enquanto isso, sites, noticiários e grupos de bate-papo em todo o mundo especulavam se o desaparecimento do sistema foi intencional ou se talvez ela tivesse sido vítima de tráfico humano ou de um esquema de casamento para imigração.5 Kobayashi entrou em contato com sua família em 11 de dezembro de 2024 e voltou aos EUA no final daquela semana, dizendo que não tinha conhecimento do interesse da mídia em seu desaparecimento. Ela não explicou por que se desvinculou das redes sociais e cortou totalmente a comunicação.6

A mídia social transformou a forma como as pessoas interagem umas com as outras e com o mundo. Ela permite a comunicação em várias plataformas digitais, incluindo e-mail, mensagens de texto, blogs, namoro online, jogos, quadros de mensagens e sites de redes sociais, como YouTube e Instagram. O mundo digital se entrelaçou em todos os aspectos de nossas vidas, acelerou o acesso a informações em tempo real e gerou um fenômeno psicológico chamado “The Fear of Missing Out” [O Medo de Perder Algo] , abreviado FOMO. É o medo de não estar atualizado sobre o que acontece, ou “estar por fora” daquilo que todos estão sabendo. Esse sentimento de ansiedade faz com que milhões de pessoas peguem seus telefones, sejam fisgadas por caça-cliques ou percorram as postagens quando deveriam estar fazendo outra coisa. FOMO leva a um ritual de checagem constante do caso de Hannah Kobayashi,7 faz com que a pessoa verifique ansiosamente as notícias na Ucrânia ou no Oriente Médio ou acompanhe as últimas postagens do influenciador favorito.

A mídia social atrai ao apresentar metas aspiracionais, aumenta a ansiedade por meio de estratégias de marketing por uma oferta que “termina hoje” e atrai por meio de apelos emocionais. Alguns viciados em mídia social optam por escapar da conectividade 24/7 de mensagens, notícias, vídeos e imagens de celebridades e influenciadores editadas no Photoshop, desconectando-se completamente por conta da saúde mental.

Um artigo sobre o lado negro do Instagram descreve como a mídia social pode fazer com que alguém supervalorize as experiências e objetivos dos outros sobre os próprios e impacte negativamente a saúde mental. A dependência das mídias sociais para gerar gratificação cria um medo de perder algo, ou “estar por fora”, que “pode parecer que o mundo inteiro sabe o que você está perdendo – de shows e eventos interessantes a oportunidades de networking – e você não quer perder a próxima grande novidade. . . . É por isso que é importante reconhecer o FOMO pelo que é: uma armadilha fácil que pode nos manter desnecessariamente envolvidos com o que outras pessoas estão fazendo, em vez de nos permitirmos fazer uma pausa. Uma vez que nos conscientizamos de como nossas inseguranças podem estar em jogo, podemos usar esse ‘medo de se sentir excluído’ como uma oportunidade para avaliar nossas prioridades com olhos abertos e avançar.”8

Pesquisas têm demostrado que um maior investimento emocional nas mídias sociais impacta negativamente a saúde mental de adolescentes9 e estudantes universitários10 e os torna mais propensos a desenvolver ansiedade e depressão. Os adultos têm mais maturidade emocional e psicológica do que os jovens, mas as mídias sociais também apresentam riscos de invasão neurocognitiva para eles. Como Craig Douglas Albert explicou: “O TikTok, como todos os sites de mídia social, é baseado em algoritmos que podem direcionar seus usuários para propaganda, informações falsas ou desagradáveis e desinformação. . . . Eles podem intencional e propositalmente inserir tipos específicos de propaganda contra qualquer pessoa, portanto, podem tentar forçar um usuário a votar de forma diferente ou empurrar vídeos extremistas para usuários que provavelmente terão uma reação emocional e recorrerão à violência como resultado de hackers neurocognitivos. O objetivo final da propaganda é mudar os processos de pensamento e/ou a tomada de decisão de um usuário sem que o usuário esteja ciente de que isso ocorreu.”11

Um antídoto para a compulsão tóxica do FOMO é estar vigilante e regular o comportamento digital. Segundo um estudo, a satisfação positiva com a imagem corporal de adolescentes e jovens adultos melhorou quando reduziram o uso das mídias sociais.12 Há muitas abordagens sociotécnicas para quebrar o controle problemático do FOMO, aprendendo como a mídia social é projetada, como as interações sociais devem acontecer nelas e desenvolvendo habilidades para lidar com essas questões.13 Estratégias específicas para domar o FOMO dependem da vulnerabilidade e da idade/maturidade do indivíduo. Alguém com um vício digital pode precisar de terapia intensiva. Mencionamos abaixo algumas estratégias gerais que podem ser aplicadas a qualquer pessoa:

ESTRATÉGIAS GERAIS QUE PODEM SER APLICADAS A QUALQUER PESSOA

Conecte-se com as pessoas face a face. Uma colega comentou que, durante uma viagem para visitar sua família, sua irmã tirou uma foto deles reunidos ao redor da mesa durante o desjejum, passivamente com seus smartphones ao invés de falarem uns com os outros. Sem dizer uma palavra, sua irmã mandou uma mensagem de texto com a foto incriminatória com a legenda: “Desliguem seus telefones!”

Estabeleça limites e faça uma desintoxicação digital. Faça uma pausa ou limite seu tempo online para reduzir a exposição à vida aparentemente perfeita de outras pessoas e à roda do hamster de permanecer rolando conteúdos e imagens. Seja intencional ao dizer não a conteúdos que não se alinham com os valores bíblicos ou que tomem tempo da família, do estudo, do trabalho, das atividades espirituais ou do sono. Limite a quantidade de combustível digital que alimenta o FOMO.

Pratique a gratidão. Mantenha um diário para registrar suas bênçãos e cultivar uma perspectiva positiva, para apreciar o que você tem e refletir sobre a providência de um Pai celestial amoroso que pode atender a todas as suas necessidades de acordo com Sua boa vontade e propósito. A mídia social geralmente apresenta padrões irrealistas de beleza e uma versão idealizada da vida das pessoas. Outras pessoas não são a referência para sua vida. Ao contrário, abrace o JOMO – a alegria de ser excluído, sem se preocupar que algo mais interessante esteja acontecendo em outro lugar. Viva conscientemente no presente.14 Salomão aconselha encontrar satisfação, prazer e contentamento na vida. Esse contentamento é um dom de Deus (ver Eclesiastes 2:24, 25; 3:13).

Exercite-se ao ar livre e em meio à natureza. A ativação crônica de reações de estresse prejudica a saúde. O exercício físico dissipa os hormônios bioquímicos do estresse relacionados à ansiedade (epinefrina, norepinefrina) e outros sintomas fisiológicos da ansiedade induzida pelo FOMO.15 Caminhar na natureza diminui a frequência cardíaca, diminui a respiração rápida e reduz o estado de alerta da resposta de “luta ou fuga”. Por meio de aconselhamento, terapia, oração e cura divina, resolva o medo e a insegurança subjacentes que impulsionam o FOMO e o consequente uso excessivo ou compulsivo das mídias sociais.

Nossos telefones e computadores nos permitem aprender, trabalhar remotamente, fazer compras, socializar, estudar a Bíblia em nosso próprio idioma ou em outro idioma, interagir com outras pessoas ao redor do mundo, agendar voos, contar passos, monitorar os níveis de glicose, dirigir com base nas informações do trânsito em tempo real, manter-nos atualizados com as notícias, encontrar informações rapidamente e pesquisar o que Ellen White diz sobre determinado assunto. As ferramentas de IA podem aumentar a produtividade. Mas se o FOMO dominar a vida de uma pessoa, ela perderá tempo e dinheiro e sem qualquer benefício.

Ao contrário, vamos nos concentrar no prêmio final: Cristo, nosso Senhor e Salvador, e a vida eterna por meio dEle. Não se distraia. “Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou, que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Marcos 8:36, 37, ACF).16

O medo não é uma emoção a ser evitada a todo custo. Há momentos em que devemos ter medo. O propósito do medo é nos manter seguros. No entanto, o medo pode ser deslocado de ameaças reais para a busca por saber se as pessoas “gostaram” de uma de nossas postagens ou quantos foram os likes. Que diferença faria se alguém perdesse a oportunidade de saber o que os Kardashians fizeram ou onde Taylor Swift foi vista com o namorado?17

Por outro lado, a Bíblia diz: “Temei a Deus e dai-lhe glória, porque é vinda a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7) e “temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mateus 10:28).

Não estou defendendo que devamos buscar o céu por medo. A Bíblia está repleta de lembretes para não ter medo, mas confiar em Deus.18 Deuteronômio 10:12, a primeira ocorrência do “temor do Senhor” nas Escrituras, define-o como uma confiança obediente e amorosa em Deus. Esse medo é diferente de ter medo de Deus, como Adão e Eva ficaram depois de pecar.

Mas não devemos ter um medo saudável e racional de perder tudo o que Deus oferece gratuitamente? Quando se trata de FOMO, não se deixe cativar pelo trivial e ser excluído do que realmente importa. “O temor do Senhor é fonte de vida, para desviar dos laços da morte” (Provérbios 14:27). A adoração ao Criador coloca todos os outros medos em seu devido lugar.

Lisa M. Beardsley-Hardy PhD, Universidade do Havaí em Mānoa, é Diretora de Educação da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Silver Spring, Maryland, EUA, e Editora-Chefe da Diálogo. E-mail: beardsleyl@gc.adventist.org

Citação Recomendada

Lisa M. Beardsley-Hardy, “Fomo: O Medo De Se Sentir Excluído – E Como Escapar De Ser Fisgado Por Ele,” Diálogo 37:1 (2025): 14-17

 

TÉCNICAS DE DEBATE NO DIÁLOGO DE JÓ