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Cuidado com a síndrome de Acabe

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O que se pode aprender sobre jugo desigual a partir da história do rei Acabe?

Por Rodrigo Silva

Muitas doenças no mundo de hoje que, não obstante apresentarem uma aparência de novidade, nada têm de modernas. Como o cólera, por exemplo, que pode ser encontrado em qualquer livro de História como sendo um mal combatido já no passado. De igual modo, no campo espiritual e, por que não dizer “social”, encontramos certas enfermidades muito antigas que infelizmente não são muitas vezes reconhecidas como gravidade nem diagnosticadas com a devida atenção. Uma dessas é a “Síndrome de Acabe”, que pode ser encontrada no livro de 1 Reis, mais especificamente no capítulo 16 verso 31, onde lemos: “Como se fora coisa de somenos andar ele [Acabe] nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, e foi e serviu a Baal e o adorou.” Como se pode ver no centro do versículo, um dos fortes sintomas dessa síndrome é o tão falado “jugo desigual”.

Não é meu objetivo escrever sobre aqueles que se converteram depois de casados e, logo, se acham em tal situação. Minha atenção aqui está voltada para o grande número de jovens de nossa Igreja (moças e rapazes) que dia após dia está se aventurando no namoro e talvez casamento com pessoas de fora. Acabes modernos em busca de Jezabéis modernas! É bem provável que, a esta altura do artigo, muitos estejam defendendo seu “amor” replicando-me: “Mas, minha (meu) namorada(o) não é nenhuma Jezabel; o senhor é que não conhece a pessoa formidável que ela(e) é”. Concordo, isto é verdade, não conheço sua (seu) namorada(o).

No entanto, quem argumenta assim, por certo também não conhece Jezabel. Ou, antes, só tem em mente a imagem da rainha má que oprimia o povo de Deus. Mas esta é a descrição da Jezabel casada. A jovem Jezabel solteira não era nada disso; caso fosse, Acabe não seria tolo de se casar com ela. Era uma moça bonita e delicada. Só para se ter uma noção, no Oriente as pessoas recebiam um nome que coincidia com sua personalidade ou com alguma peculiaridade de sua vida (ex.: Jesus -“O Senhor salva”; Jacó – “enganador”; Samuel – “pedido a Deus”). Logo, o nome Jezabel deveria nos dizer muito acerca de quem o levava. Pois bem, Jezabel significa “casta, pura, imaculada, inocente”. Como você imagina uma jovem com essas qualidades? E além de tudo, bonita! Era justamente o que Acabe precisava, uma Vera Fischer com caráter de Madre Tereza de Calcutá!

Imagine ainda, neste contexto, o jovem rei justificando seu namoro: “Mas Senhor [ele teria dito], Jezabel é uma boa moça, e, tenho certeza, melhor do que muitas de Israel. Ela é favorável à religião e estou seguro de que com o tempo ela virá para a igreja. Deu certo com outros, dará comigo também.” Pobre Acabe! Mal sabe o que o futuro lhe reserva. Como você, que conhece o desastroso final desta história, argumentaria com o rei? Não basta dizer-lhe que aquilo é errado, pois inflamado pela paixão ele não acreditaria em você e exigiria argumentos mais fortes.

Mas deixemos que o jovem Acabe aguarde um pouco mais por sua argumentação para que voltemos um pouquinho mais na história desse rei. Assim, você entenderá melhor a situação antes de dizer-lhe alguma coisa. Pois, como você sabe, uma gripe não começa com o primeiro espirro. Antes disso houve um pé descalço ou um corpo exposto ao sereno que permitiu a entrada do vírus. O texto bíblico deixa claro que o casamento com Jezabel foi o passo número dois. Antes disso, Acabe “andou nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate” (1 Reis 16:31). E quais foram esses pecados? 1 Reis 12 a 14 descreve esses deslizes de Jeroboão que numa suma podemos alistar: 1) quis homenagear ao Senhor do seu próprio modo erigindo bezerros de ouro; 2) agiu com descaso ao conselho dos profetas; 3) corrompeu as leis antigas; 4) estabeleceu seu próprio sacerdócio com pessoas que não eram levitas; 5) estabeleceu seu próprio sistema de adoração e seus próprios dias de oferecer sacrifícios. Embora a Bíblia não fale muito da vida de Acabe antes do casamento com Jezabel, subentende-se que esses mesmos passos precederam o desastroso enlace que, por conseguinte, foi uma consequência deles.

Os pecados de Jeroboão hoje

Quando se fala dos pecados de Jeroboão, fala-se dos pecados daquele que se casou com Jezabel. Logo, estamos dentro da “síndrome de Acabe”. E como podem esses pecados/sintomas ser diagnosticados hoje? Há muitas pessoas na igreja que, à semelhança de Jeroboão e Acabe também querem fazer as coisas a seu modo. Elas sentem que não precisam do conselho da palavra da lei (Bíblia) e dos profetas (inclusive Ellen White). No máximo, interpretam que seu caso, embora abertamente contrário do dito de Deus, será uma feliz exceção que dará certo. Estabelecem seu próprio coleguismo com pessoas de fora da igreja (sacerdócio não levítico) e ainda escolhem seus próprios dias de adoração, ou seja, vão à igreja quando não há nenhum outro programa da “turma” no mesmo horário dos cultos. E, para completar o quadro, criam seu próprio Cristo que, de preferência, não interfira nas suas atitudes nem dê palpites em sua vida.

No início tudo se justifica nas frases: “Que mal há nisso?” ou “Uma vez só não tem problema”. Só que neste “Trem da Vida” um vagão puxa outro. E logo lá está o Acabe moderno numa festinha comum, cercado de colegas de fora da igreja. Ele brinca com eles e sorri com suas piadas; afinal, lembre-se que, para ele não há mal nenhum nisso. Afinal ele não está bebendo, nem fumando, pois é um adventistas do sétimo dia e julga ser isso suficiente para dar um bom testemunho.

Jezabel entra em cena

De repente, em meio às luzes da festa, uma linda garota com rosto de anjo aparece ante seus olhos. Seu coração bate mais forte e ele não quer saber de mais nada a não ser dela. Jezabel é linda, e por ela entregaria os céus. Mas, passada a emoção do primeiro encontro, Acabe cai em si e lembra que ela não comunga a sua fé. Promete para si mesmo que vai tentar evangelizá-la primeiro. Se ela não aceitar a mensagem, eles não se casarão nunca. Mas, se no decorrer do estudo aparecer um clima de namoro, tudo bem, pois se não resolverem a questão espiritual (na pior das hipóteses), é só terminar tudo. “Está certo, conclui Acabe, eu a ganho para isso e para mim mesmo.” Só que ele se esquece que, à semelhança de fogo e água, estudo bíblico e romance não combinam, pois quando a paixão aparece, a razão, via de regra, silencia.

Conheço vários casos de moças e rapazes que davam estudos bíblicos para pessoas que, não sei se interessadas na igreja ou nos instrutores, acabavam confundindo os sentimentos, e o resultado era sempre desastroso. Numa situação dessas é preferível transferir o estudo para outros e sempre que possível evitar situações em que fiquem apenas o instrutor e uma pessoa do sexo oposto em ambiente muito privado. Sentimentos além da amizade e simpatia são muito fáceis de emergir em tais condições e nunca pense que você é forte o bastante para se apaixonar ou desinteressante demais para ser cobiçado. Pois Acabe também pensava assim, e um belo dia percebeu que estava perdidamente apaixonado por Jezabel. E o pior, ela também correspondia. Só que essa não crescia na mesma medida em direção à religião que Acabe professava. Ele tentou romper, mas a dor da “fossa” falou mais alto, e ele cedeu casando-se com ela. Exceção?

Embora conhecesse todos esses riscos e as possíveis conseqüências, Acabe se refugiou na esperançosa chance de que seu caso seria diferente dos demais. Afinal, se ele puxasse pela memória, saberia citar dois ou até mesmo três casos de casamentos religiosamente mistos que deram certo e, talvez, o seu poderia ser mais um desses casos. Afinal, ele e Jezabel se amavam e não foi a própria Bíblia que disse que “o amor a tudo supera”? Superaria também a esta diferença religiosa, nada poderia dar errado. Eis outro grave sintoma da síndrome de Acabe: pensar que o mal só acontece na casa do vizinho, pois comigo será diferente. Deixe-me dar um “testemunho autorizado” de várias pessoas (na maioria mulheres) portadoras da síndrome de Acabe que um dia acreditaram que seu namoro e casamento com alguém de fora daria certo e hoje se arrependem amargamente do que fizeram e lamentam já não poderem voltar ao passado. Muitas dessas pessoas acabaram saindo da igreja para se casarem, e com o passar do tempo retornaram à religião só que sem aquela liberdade de antes, pois já têm suas duras responsabilidades junto a um cônjuge não adventista e filhos que, divididos, não sabem se seguem a mãe ou o pai, se tomam café ou bebem cevada.

Os conflitos

Acabe não parou para analisar uma outra questão. Ele pensava que o jugo desigual era ruim somente para ele, que era adventista. Esqueceu que Nezabel também sofreria com esse desajuste cultural. E foi no casamento que isso veio mais à tona, pois na época do namoro tudo se tolerava, tudo eram flores. É a magia da novidade que se vai quando ela se torna rotina.

Num ano posterior, o aniversário de Jezabel caiu num sábado e ela queria comemorar com um churrasco de manhã, pois seus parentes não podiam vir no domingo. Mas aquele foi o seu pior aniversário, pois como a festa no sábado conflitava com a religião de Acabe, este passou o dia inteiro na igreja com seus irmãos, e ela, além de não ter a presença do seu marido para receber os convidados, tinha de ficar dando desculpas e explicações a todos que não paravam de perguntar por ele. À noite, tiveram uma briga. Doutra feita, houve um retiro de carnaval.

Até então Acabe não havia perdido nenhum retiro, mas não pôde ir a esse, pois Jezabel não gostava de acampamentos e tinha medo de ficar sozinha. E nova briga tiveram eles. Veio o primeiro nenê e Jezabel concordou em apresentá-lo na igreja adventista, desde que Acabe cedesse em permitir o batismo da criança na religião de seus pais. E como já era costume, brigaram novamente. E assim foi entre brigas e mais brigas até que, com o passar do tempo, “Acabe foi e serviu a Baal e o adorou”. Sua vida já não era mais a mesma. Para evitar as discussões, ele optou por não ser mais tão fiel à sua religião; quebrou alguns sábados, deixou de freqüentar os cultos noturnos, não aceitou mais cargos e procurava sempre fazer os gostos de Jezabel para não ouvir mais reclamação. Um pobre infeliz.

Infelizmente não podemos mudar essa história, pois não se pode mexer no passado. Mas podemos trabalhar com o presente para não termos esse fato repetido no futuro. Ah! E se você estiver lembrado, o jovem Acabe, do início do artigo, namorado da jovem Jezabel, está até agora aguardando a sua argumentação. Esse Acabe pode estar na sua igreja, ser membro do seu conjunto, aluno de sua unidade ou, quem sabe, pode até mesmo ser você. Não deixe que o mal aconteça, nem espere somente pelo pastor ou ancião. Faça você mesmo alguma coisa. Que esse ano seja o ano internacional do combate à síndrome de Acabe.

Equipe Biblia.com.br

 

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