A guerra cósmica e a maior migração da História
Humanidade
O ano é 2022 d.C., o início de uma década efervescente. Além das bombas que explodem na Ucrânia sob o olhar do mundo, Haiti, Mianmar e a Síria padecem em seus dramas humanitários e a paz está rarefeita em vários lugares. Será que a maior migração da História ainda está por vir?
Por Pr. Robson Aleixo
Apresentador do Fé Para Hoje
O ano era 539 a.C. O final de uma década efervescente. Na Ásia, os povos se encantam com os ensinamentos filosóficos, e a grande novidade na Índia é o notório enriquecimento da classe mercantil. Tudo indicava que aquele lado do mundo nunca mais seria o mesmo. Roma estava de cabeça para baixo: a monarquia dava seus últimos passos com Tarquínio, os levantes dos patrícios já se registravam por toda a parte e no horizonte italiano a República romana mostrava seus primeiros raios de luz.
Da janela da sua casa, um velho profeta hebreu repassa tudo na sua mente. Ele tinha 17 anos de idade quando o mundo convulsionara assim pela última vez e a sua vida mudou drasticamente. Foram quase mil e quinhentos quilômetros de caminhada até a Babilônia. Para trás ficaram seus pais, quase todos os amigos, a vida como havia planejado e as ruínas de Jerusalém, a cidade amada. À frente a realidade da escravidão e do cativeiro, a opressão dos caldeus e uma estrada com mais perguntas do que respostas.
Não havia bagagens, mas no coração algumas certezas ocupavam espaço naquele compartimento que absolutamente ninguém poderia mexer. As chaves da convicção de Daniel estavam nas mãos dAquele a quem ele havia entregado a vida, e plenamente confiava no Seu controle.
Foi fácil para Nabucodonosor tirar Daniel de Jerusalém, seria impossível para ele tirar Jerusalém de Daniel.
Agora, aos 85 anos, o homem que interpreta sonhos, acompanha atentamente as notícias, não como um mero espectador tentando extrair assuntos para não ficar alheio às conversas do momento, mas imerso na consciência do seu propósito. Ele estava dentro do palácio real quando o império veio abaixo. Beltessazar, o rei, no seu último ato arrogante, desdenhou da revelação divina, da exclusividade do sagrado e da perseverança e sagacidade persa. Apostando tudo na força de seus muros, decidiu se embebedar em um culto a si mesmo. Deus o pesou na balança, e ele não deu conta. Daniel foi o escolhido para anunciar a sentença:
“Dividido foi teu reino e dado aos medos e aos persas” (Daniel 5:28).
Beltessazar morreu e Babilônia caiu. “E Dario o medo, com cerca de sessenta e dois anos se apoderou do reino” (Daniel 5:31).
No coração do sábio hebreu não havia surpresa, mas uma forte expectativa pelo que haveria de vir, e ele correu para a sua Bíblia:
“No primeiro ano do reinado de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, que foi constituído rei sobre os caldeus, no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi, pelos livros, que, de acordo com o que o SENHOR havia falado ao profeta Jeremias, a desolação de Jerusalém iria durar setenta anos.” Daniel 9: 1 e 2
Do seu quarto não se ouve uma palavra de escândalo ou lamentação pelas transformações do mundo, muito menos tentativas de explicar as mudanças na história das nações com instrumentos de avaliação que os homens construíram. Daniel, busca respostas na revelação profética, afinal de contas, foi através dela que ele soube antes de todos que os persas chegariam e seria também através dela que ele saberia o desdobramento de tudo isso.
Lendo Jeremias, sua mente não se concentrou no fim da dinastia etrusca em Roma ou no mercado indiano, mas nos “Setenta anos” que escrevera Jeremias. A contar do ano 605 a.C., a conta foi simples, os joelhos tocaram o chão e os olhos na janela buscaram Jerusalém. Na mente de Daniel, Salomão ainda falava:
“…se, na terra aonde forem levados cativos, caírem em si e se converterem, e, na terra do seu cativeiro, te suplicarem, dizendo: “Pecamos, procedemos mal e cometemos iniquidade”; e se eles se converterem a ti de todo o seu coração e de toda a sua alma, na terra do seu cativeiro, para onde foram levados cativos, e orarem, voltados para a sua terra, que deste aos seus pais, para esta cidade que escolheste e para o templo que edifiquei ao teu nome, ouve tu desde os céus, do lugar da tua habitação, a sua prece e a sua súplica e faze-lhes justiça; perdoa o teu povo que houver pecado contra ti” (2 Crônicas 6:36-39).
Daniel, do seu quarto, onde havia janelas abertas do lado de Jerusalém (Daniel 6:10), com a Bíblia e o coração abertos ora, três vezes ao dia. De perto é possível ouvir o que ele diz:
“nós temos pecado e cometido iniquidades. Procedemos mal e fomos rebeldes, afastando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos. Não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, aos nossos príncipes, aos nossos pais e a todo o povo da terra” (Daniel 9:5).
Olhando para a sua Bíblia aberta em Jeremias é possível saber o que ele leu:
“Assim diz o SENHOR: ‘Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vocês e cumprirei a promessa que fiz a vocês, trazendo-os de volta a este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a respeito de vocês, diz o SENHOR. São pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhes um futuro e uma esperança. Então vocês me invocarão, se aproximarão de mim em oração, e eu os ouvirei. Vocês me buscarão e me acharão quando me buscarem de todo o coração. Serei achado por vocês, diz o SENHOR, e farei com que mude a sorte de vocês. Eu os congregarei de todas as nações e de todos os lugares para onde os dispersei, diz o SENHOR, e trarei vocês de volta ao lugar de onde os mandei para o exílio” (Jeremias 29: 10-14).
Os textos bíblicos na cabeça do profeta exilado emergem na sua oração: “pecamos e procedemos mal”. Emprestando as palavras de Salomão, Daniel interpreta o mapa da volta para casa enxergando o caminho do arrependimento e do perdão. As janelas voltadas para Jerusalém, cumprem magistralmente a sua função: a de olhar com esperança para o cumprimento dos sonhos de Deus.
As janelas estavam no cativeiro, mas o olhar estava no lar.
O ano é 2022 d.C., o início de uma década efervescente. Os conflitos no Iêmen já completam mais de uma década, fora dos holofotes da imprensa internacional estão 2 milhões e 300 mil crianças em desnutrição e mais de 233 mil mortos. A Etiópia sangra em uma guerra civil há dois anos e 9 milhões de etíopes estão desesperadamente precisando de ajuda.
Além das bombas que explodem na Ucrânia sob o olhar do mundo, Haiti, Mianmar e a Síria padecem em seus dramas humanitários e a paz está rarefeita no Mali, Níger, Burkina Faso, Somália, Congo e Moçambique.
Das sagradas folhas da Bíblia o velho Daniel nos ensina o que fazer em dias assim. Ao invés de procurar respostas na mesma fonte de onde as perguntas vieram, devemos confiar na infalibilidade profética que, ao descrever um mundo virando no avesso em “guerras e rumores de guerra”, destaca: “vede, não vos assusteis” (Mateus 24:6).
Encarando o cenário de um mundo em erupção, Daniel encontrou respostas no estudo das profecias. Leu o texto bíblico e seu coração se encheu de esperança com a proximidade do momento de voltar para Jerusalém, de voltar para casa e se pôs a orar. O profeta orou pelos pecados do povo e buscou perdão e redenção.
Neste nosso século cronicamente inviável, onde os poderosos banqueteiam alheios a vontade divina e a necessidade humana, as janelas devem se abrir em direção a nossa pátria e a Santa Cidade. Tudo ao nosso redor confirma que a Bíblia mais uma vez está certa ao nos dizer que é o momento de voltar para casa.
Sem encolher a mão diante de tantos que necessitam, estude a Bíblia, ore e não feche a janela.
Maranata.