A ansiedade gerada pela I.A.
cientistas
À medida que as habilidades da inteligência artificial se elevam a níveis cada vez mais sofisticados, questões preocupantes entre os seres humanos se proliferam. Como um cristão deve enfrentar essas questões?
Os economistas dizem que a inteligência artificial (I.A.) está levando o mundo ao ápice de uma quarta revolução industrial. E eles estão preocupados. Existem, é claro, benefícios óbvios e imediatos que já resultaram do desenvolvimento da I.A. Mas o Fórum Econômico Mundial estimou que seu uso no local de trabalho eliminará cerca de cinco milhões de empregos nas economias do mundo desenvolvido, entre 2015 e 2020. Curiosamente, à medida que as máquinas inteligentes assumem os papéis mais rotineiros no local de trabalho, dois terços dessas reduções afetarão o chamado setor do colarinho branco.1
E os economistas não estão sozinhos em sua inquietação. Filósofos, cientistas e mesmo líderes no campo da tecnologia expressaram sua preocupação com relação à ideia de que as máquinas podem, em última instância, representar uma ameaça para o futuro da humanidade. Preocupações vindas também de pessoas como Stephen Hawking e Bill Gates.
Com a crescente dependência da tecnologia, a questão do controle tornou-se mais urgente. Hoje, as máquinas pilotam nossos aviões e, em breve, conduzirão nossos automóveis. As propagandas que aparecem em nossos navegadores de internet e nas mídias sociais são o resultado de algoritmos computacionais baseados em nosso próprio comportamento pessoal on-line. Além do que, os programas de reconhecimento facial são capazes de nos identificar em meio à multidão.
O tema do perigo potencial que há na tecnologia de se desenvolver uma fúria assassina não é algo novo na cultura popular. Um dos primeiros exemplos clássicos disso em filme é demonstrado pelo computador HAL 9000, em 2001: Uma Odisseia no Espaço. Os críticos enfatizaram que o conflito desencadeado nesse filme de 1968, entre o HAL e os astronautas humanos que estavam a bordo de uma nave espacial, centraliza-se na sua luta desesperada para alcançarem uma singularidade na qual a tecnologia ou a humanidade emergiriam na próxima fase da evolução dos seres terrestres conscientes.
Trinta anos depois de Uma Odisseia no Espaço, outro filme – na verdade, uma trilogia de filmes – levou o tema da competição da humanidade com a máquina para uma teoria ainda mais sombria. Em Matrix, a humanidade e a I.A. chegam a um confronto literal, face a face. “Todo mamífero neste planeta”, diz a inteligência artificial, “desenvolve instintivamente um equilíbrio natural com o ambiente circundante, mas vocês, humanos, não. Vocês se movem para uma área e vocês se multiplicam, e se multiplicam até que todos os recursos naturais sejam consumidos. A única maneira de sobreviverem é espalharem-se para outra área. Há outro organismo neste planeta que segue o mesmo padrão. Vocês sabem o que é isso? Um vírus. Os seres humanos são uma doença, um câncer deste planeta. Vocês são uma praga. Nós somos a cura.”2
Em 1963, o matemático e criptólogo britânico Irving John Good advertiu: “Uma máquina ultra inteligente poderia projetar máquinas ainda melhores; haveria, sem dúvida, uma “explosão da inteligência”, e a inteligência do homem ficaria para trás. Está a humanidade total- mente no controle de suas próprias invenções?”3
O avanço tecnológico induziu o pensamento a algumas ideias ainda mais inquietantes sobre a I.A. À medida que suas habilidades se elevam a níveis cada vez mais sofisticados, questões preocupantes entre os seres humanos se proliferam. E essas questões não são postadas apenas por produtores de cultura popular.
O filósofo sueco Niklas Boström fez uma profunda análise sobre a I.A. e levantou alguns desafios preocupantes. Embora ele insista em que os pensamentos não sejam previsíveis, com algumas experiências sugeridas de pensamentos, insiste em que se deve considerar mais cuidadosamente o desenvolvimento da tecnologia:
- Se uma superinteligência recebesse a tarefa de fazer clipes de papel, o que a impediria de concluir que todos os seres humanos devam ser transformados em clipes de papel?
- Se a I.A. fosse projetada com a “principal diretriz” de nunca causar danos aos humanos e decidisse que a melhor maneira de nunca causar danos aos humanos seria impedir que eles nascessem?
- Se as máquinas ultrainteligentes fossem programadas para, não importa como, sempre fazer as pessoas sorrirem, e elas concluíssem que a melhor maneira de fazer isso seria instalar eletrodos em todos os seres humanos para fazê-los sorrir?
A imaginação de Boström pode se tornar ainda bem mais assustadora. Ele fala da possibilidade de a superinteligência, em tese, já ter substituído seus criadores humanos e colocado neles uma existência humana artificial. “Não tenho certeza”, diz ele, “de que eu já não seja uma máquina!”4
OK, afirmou ele, esses cenários certamente soam como algo que ocorreria apenas nos mais avançados âmbitos da ficção científica, mas, a julgar pelas questões que ainda persistem em um filme de ficção científica de 50 anos, parece que a cultura popular às vezes pode prever alguns problemas. Hoje, uma emergente “ansiedade gerada pela I.A.” começou a afetar até mesmo aqueles que estão criando esses incríveis avanços tecnológicos. Com toda a sua tecnologia, aqui é onde o dilema que a humanidade enfrenta começa atualmente a se assemelhar ao dilema que o Criador que deu origem às inteligências terrestres deve ter enfrentado. “Inclua elementos de autonomia”, diz um escritor ao descrever a criação da I.A., “e as coisas vão dar errado rapida e desastrosamente.”5 Acrescente os elementos do livre arbítrio à criação da humanidade e, embora não esteja claro que tenha dado errado rapidamente, com certeza, deu desastrosamente errado.
Deus não “introduziu” casualmente os elementos do livre arbítrio na criação da humanidade. A liberdade de escolha não foi incluída meramente como uma espécie de acessório na natureza humana. Era central para o seu personagem, pois, de outra forma, não poderia haver amor entre a criatura e o Criador. “Deus poderia ter criado o homem”, escreveu Ellen G. White, “sem a faculdade de transgredir a Sua lei; poderia ter privado a mão de Adão de tocar no fruto proibido; neste caso, porém, o homem teria sido não uma entidade moral, livre, mas um simples autômato. Sem liberdade de opção, sua obediência não teria sido voluntária, mas forçada. Não poderia haver desenvolvimento de caráter. Tal maneira de agir seria contrária ao plano de Deus ao tratar Ele com os habitantes de outros mundos. Seria indigna do homem como um ser inteligente e teria apoiado a acusação, feita por Satanás, de governo arbitrário por parte de Deus.”6
Não havia filósofos na criação do homem para exprimir a ansiedade da I. A. com relação ao potencial perigo de tais seres. Não havia cientistas para expressar a preocupação de que esses novos seres algum dia poderiam tentar superar ou substituir seu Criador.
Na verdade, isso é o que Lúcifer – uma criatura ultra inteligente – pretendia fazer. E ele conseguiu transmitir a outras criaturas o desejo de atender às suas insinuações ao lhes dizer: “[…] seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão […].” (Gênesis 3:5).
A atual preocupação humana sobre os possíveis e terríveis avanços da I. A., naturalmente, não é que ela possa se tornar igual à humanidade, mas que ela venha suceder à humanidade. Em princípio, é isso que, espantosamente, estava por trás da mente de Lúcifer: suceder o seu Criador. Milênios após a origem do pecado: “O diabo O levou [Jesus] a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os rei- nos do mundo e seu esplendor. ‘Tudo isto Te darei’, disse ele, ‘se Te prostrares em me adorares” (Mateus 4:8, 9).
É provável que Satanás tivesse em mente mais do que ser simplesmente como Deus. Havia toda uma intenção de se sobrepujar a Deus. De que outra forma Satanás poderia ter esperança de ser adorado? De tudo o que restou do futuro da humanidade até o retorno do Criador que virá para resgatar esse planeta desfigurado pelo pecado de suas próprias invenções – tecnológicas ou espirituais – há somente a resposta final do próprio Criador: “Então disse-lhe Jesus: ‘Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás’” (Mateus 4:10 – ACF).
Gary B. Swanson M.A. pela Universidade de Loma Linda, foi editor do Collegiate Quarterly (1990-2005), diretor associado do Departamento de Escola Sabatina e Ministério Pessoal (2005-2015) e, atualmente, é o editor de Perspective Digest, publicado pela Adventist Theological Society.
Citação Recomendada
Gary B. Swanson, “A ansiedade gerada pela I.A.,” Diálogo 30:1 (2018): 26-27
NOTAS E REFERÊNCIAS
- World Economic Summit, Executive Summary: “The Future of Jobs: Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution” (janeiro de 2016): http://www3.weforum. org/docs/WEF_Future_of_Jobs.pdf.
- http://www.imdb.com/character/ch0000745/quotes.
- Irving John Good, “Speculations Regarding the First Ultraintelligent Machine” (maio de 1964): http://www.acikistih- barat.com/dosyalar/artificial-intelligence-first-paper-on-intelli- gence-explosion-by-good-1964- acikistihbarat.pdf.
- Joel Achenbach, “Why Top Scientists Are So Worried About Intelligent Machines”, The Week (17 de janeiro de 2016): http:// theweek.com/articles/599293/why-scientists-are-worried- about-intelligent-machines.
- Ibid.
- Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995), p. 49.
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