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Santo Sudário: a história e os mitos

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O Evangelho de João (capítulo 19, versículos 38 em diante) conta que José de Arimateia e Nicodemos retiraram o corpo de Jesus da cruz, envolveram-no em panos e aplicaram óleos aromáticos, como era o costume entre os judeus da época.

 

Por Rodrigo Pereira Silva, Phd

 Arqueólogo e prof. de Teologia do UNASP

 

Você já ouviu falar do Santo Sudário? Muita gente já ouviu esse nome, mas poucos realmente sabem do que se trata. E quem já ouviu, provavelmente também já se perguntou: será que esse pano cobriu mesmo o corpo de Jesus Cristo?

Neste artigo, vamos explorar de forma clara, sem fanatismo e com muito respeito, tudo o que se sabe (e o que ainda é debatido) sobre o Santo Sudário. Da origem da palavra até os estudos mais recentes envolvendo ciência e fé.

O que é o Santo Sudário?

O termo “sudário” vem do latim sudarium, que significa “pano para enxugar o suor”. Com o tempo, essa palavra passou a ser usada para designar o tecido que cobre o rosto ou o corpo dos mortos. E quando falamos em Santo Sudário, nos referimos ao pano que, segundo a tradição, teria coberto o corpo de Jesus após sua crucificação.

Esse tecido está atualmente na Catedral de Turim, na Itália, e é considerado por muitos como uma relíquia sagrada. Mas nem todo mundo concorda.

Onde a Bíblia fala sobre o Sudário?

O Evangelho de João (capítulo 19, versículos 38 em diante) conta que José de Arimateia e Nicodemos retiraram o corpo de Jesus da cruz, envolveram-no em panos e aplicaram óleos aromáticos, como era o costume entre os judeus da época.

“Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com óleos aromáticos…” – João 19:40

Naquele tempo, o ritual de sepultamento envolvia três tecidos diferentes:

  1. Um pano cobrindo apenas a cabeça (o verdadeiro sudarium)
  2. Um pano maior que envolvia todo o corpo
  3. Faixas adicionais para enrolar o cadáver, tipo uma múmia (sem embalsamamento, apenas uma prática ritual judaica)

História e caminho do Santo Sudário

A trajetória do Santo Sudário é quase um quebra-cabeça. A primeira aparição histórica confirmada acontece no século XIV, na França, com o cavaleiro Geoffroi de Charny, que o exibiu numa igreja em Lirey. De lá, ele passou por:

  • Chambéry, onde sofreu danos num incêndio em 1532
  • Finalmente, foi levado para Turim, onde está até hoje

Antes disso? Tudo é especulação. Há quem diga que ele passou por Constantinopla, Edessa e até pelo Egito. Mas não há nenhuma prova concreta dessa parte da jornada.

E as evidências científicas?

Teste do Carbono-14 (1988)

Um dos estudos mais famosos sobre o Sudário foi feito em 1988, usando o método do Carbono-14. Três laboratórios independentes chegaram à mesma conclusão:

O pano é datado entre os anos 1260 e 1390 d.C., ou seja, é medieval.

Isso foi um balde de água fria para quem acreditava que o pano era do primeiro século. Mas aí começaram as polêmicas.

Contra-argumentos:

  • O pano pode ter sido contaminado por incêndios.
  • Foi analisada uma área restaurada por freiras, e não o tecido original.
  • Uma nova técnica, usando raios X de ângulo amplo, estimou que o pano tem cerca de 2.000 anos.

Ou seja, temos conclusões opostas dependendo do método utilizado.

Críticas, Teorias e Outras Relíquias

Evidências

A dúvida não é de hoje. Lá em 1389, um bispo já dizia que o Sudário era “uma obra humana engenhosamente pintada”. Existem também outras relíquias similares espalhadas pela Europa, como:

  • O Sudário de Oviedo, na Espanha
  • O Véu de Verônica, no Vaticano
  • O Sudário de Besançon, na França

Isso sem contar relíquias ainda mais peculiares, como:

  • Gota do leite de Maria
  • Pena da pomba do Espírito Santo
  • Lasca da cruz de Cristo

O mercado de relíquias bombava na Idade Média.

O que dizem os estudos mais recentes?

Em 2022, um estudo 3D comparou a imagem do Sudário com como ela deveria estar distorcida se realmente tivesse sido impressa sobre um corpo tridimensional.

Resultado? A imagem está simétrica demais. Isso sugeriria que o pano foi colocado sobre um baixo relevo, tipo uma escultura – o que levanta suspeitas sobre uma possível falsificação.

Afinal, o Santo Sudário é verdadeiro ou falso?

Essa pergunta continua sem resposta definitiva. Há estudos científicos sérios dos dois lados, há posicionamentos respeitosos e também apaixonados, há fé, ceticismo e muita história envolvida.

Como bem disse o Papa João Paulo II:

“A investigação deve continuar com liberdade interior e respeito pela metodologia científica e pela sensibilidade dos fiéis.”

 

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