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Sentimentos de culpa

perdão

Os erros são ferramentas de aprendizagem...

Julián Melgosa e Michelson Borges

Muitas pessoas vivem com sentimento de ­culpa infundado; ­culpa falsa ou duvidosa. Isso lhes acarreta conflitos e as seguintes tendências: complexo de inferioridade, perfeccionismo, autoa­cusação constante, medo do fracasso (com o consequente estado de permanente vigilância) e ser demasiadamente exigente com os outros. Por outro lado, o sentimento de ­culpa é um re­curso útil que estimula a conduta correta e respeitosa, favorecendo a boa convivência. O sentimento de ­culpa real é sintoma de uma consciência alerta (algo muito desejável), que serve de autocensura e previne os delitos e a falta de moral.

Se a ­culpa é comprovada, o caminho é fazer os acertos e, em alguns casos, também obter o perdão. Quanto à ­culpa infundada ou exagerada, o processo é mais complicado e exige diversas atitudes:

Evitar os enfoques demasiadamente restritos – Os ambientes familiares ou sociais que exigem ou intimidam em demasia contribuem para uma consciência limitada, com o consequente risco de falsa ­culpa.

Controlar os pensamentos – É preciso manter a autoinstrução com mensagens assim: “Tenho feito o que posso.” “Não existe perfeição neste mundo.” “Os erros são ferramentas de aprendizagem.”

Amenizar as ­culpas – Falar dos sentimentos de ­culpa com um amigo de confiança ajuda a organizar nossas próprias ideias a respeito. Em todos os casos serve de alívio para reduzir parte da tensão criada por esse sentimento.

Praticar o perdão – Perdoar os outros ajuda no processo de perdoar a si mesmo, que é o objetivo principal do sentimento de ­culpa.

Recorrer a ­Deus – ­Deus está disposto a perdoar até as maiores falhas, aquelas que não são perdoadas em nível humano: “Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão” (Isaías 1:18).

Consciência insensível

A consciência nem sempre constitui uma norma de conduta sábia. Existem consciências demasiadamente limitadas e outras muito abertas. Os que são demasiadamente restritos esperam que o mesmo ocorra com os outros. E os liberais acham que tudo é bom. Por isso, Provérbios 16:25 diz: “Há caminho que parece reto ao homem, mas no final conduz à morte.”

Portanto, é necessário contar com normas externas e transcendentes, princípios éticos de valor universal. Não é em vão que o apóstolo Paulo advertiu seu discípulo Timóteo a respeito de alguns que, tendo a consciência cauterizada, mandariam os crentes fazer coisas absurdas (1 Timóteo 4:2, 3).

As consciências cauterizadas ficam insensíveis e incapazes de ser um guia de conduta confiável.

O outro lado da culpa

Um estudo realizado por Grazyna Kochanska e suas colegas constatou que o sentimento de ­culpa, na medida exata, ajuda as crianças a observar as normas e respeitar os outros. Participaram dessa pesquisa 106 meninos e meninas em idade pré-escolar, que variava de dois a cinco anos. Para verificar a medida da ­culpa, os pesquisadores fizeram com que as crianças acreditassem que haviam estragado um objeto de grande valor. Logo após, observou-se a conduta de cada uma, e foi solicitada a opinião das mães e das próprias crianças. Estes são os resultados mais importantes:

  • As meninas demonstraram maior sentimento de ­culpa que os meninos.
  • Os pré-escolares de famílias bem estruturadas manifestaram menor culpabilidade.
  • O nível de ­culpa das crianças de dois anos mantinha relação com a autonomia moral das de cinco anos.
  • As crianças com sentimento de ­culpa violaram menos regras do que as que não sentiam ­culpa.
  • A medida justa da ­culpabilidade ajuda a prevenir a má conduta.

O perdão do Pai

Uma das mais belas e conhecidas parábolas contada por Jesus é a do filho pródigo, registrada em Lucas 15:11-22. Trata-se da história do pai e dos dois filhos, um dos quais, cansado da vida pacata do lar, decidiu abandonar tudo e buscar a liberdade que tanto desejava. Como se não bastasse magoar o pai com sua atitude rebelde e ingrata, ele ainda pediu sua parte na herança da família, algo que os filhos só recebem quando os pais morrem. O pai, respeitando a liberdade de escolha do filho – Ele sempre respeita, lembra? –, deu-lhe o dinheiro. E o filho abandonou o lar.

Livre das restrições paternas, o rapaz passou a esbanjar o dinheiro em bebedeiras, festas e com mulheres. Enquanto tinha recursos, esteve cercado de “amigos”. Mas o dinheiro acabou e a fome bateu. O que fazer agora? Foi procurar emprego e acabou cuidando de porcos, um trabalho extremamente humilhante para um judeu. O jovem que se gabava de sua liberdade de repente se viu escravo das circunstâncias. Ele que reclamava da comida de casa, agora disputava a ração dos porcos para não morrer de fome. Onde estavam os “amigos” agora? As mulheres, o som de festa?

O texto diz que o jovem decidiu ir para “uma terra distante”, símbolo mais do que apropriado para o pecado – ele nos leva para longe de Deus e de nós mesmos. Arranca tudo o que há de bom em nossa vida, alimentando por algum tempo a ilusão de liberdade e alegria. Mas não existe verdadeira alegria longe de Deus, na “terra distante”. O que aquele jovem descobriu é que na “terra distante” só existem frustração, tristeza, humilhação, vazio e culpa.

No meio daquela situação deplorável, ele decidiu voltar com a intenção de ser aceito pelo pai como um de seus empregados. Esse filho tinha muito ainda a aprender sobre o homem para quem havia dado as costas. Mas, ainda que sua compreensão fosse limitada, ele sabia que o pai era justo e amoroso. E foi essa noção que o fez pensar em voltar. É sempre a bondade de Deus que nos leva ao arrependimento e nos atrai para Ele (Romanos 2:4; Jeremias 31:3).

Com a cabeça baixa, as roupas esfarrapadas e uma tonelada de culpa sobre si, ele se aproximou de casa, mas não surpreendeu o pai, que o avistou à distância e correu em sua direção, dando-lhe um abraço apertado, cobrindo sua miséria com a própria capa. O pai sempre estivera esperando. Nunca deixou de amar e recebeu o rapaz como filho, sem lhe jogar no rosto os pecados. O passado estava esquecido, os pecados perdoados, e ninguém podia dizer nada em contrário.

Satanás, o filho pródigo que nunca voltou para o Pai, é que vive contando a mentira de que o Senhor não pode aceitar pecadores de volta, a menos que eles sejam bons o bastante para poder voltar. Se esperar até que isso aconteça, o pecador nunca irá a Deus.

A mensagem central da parábola é o amor do pai, que claramente representa Deus. Ele nos aceita, nos perdoa, nos ama. Sempre. (…)

Você já tomou a decisão de voltar para o Pai?

 

Quer estudar mais sobre esse assunto?

Leitura recomendada:

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Sentimentos e Emoções

 

 

Fonte: O Poder da Esperança, pgs. 67-70.

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