Depressão – excesso de passado
depressão
As pessoas estão com saudades, e nem sabem do quê.
Julián Melgosa e Michelson Borges(…) As causas da depressão variam muito e às vezes são até difíceis de ser identificadas. Este é um mundo não ideal, e quanto mais longe do ideal dAquele que criou o mundo para ser ideal, mais as pessoas pagam um alto preço por essa inadequação ou mesmo teimosia.
O fato é que somente quem enfrentou ou enfrenta um quadro depressivo consegue entender o que significa perder o sono sem motivo aparente ou dormir mais de doze horas seguidas, sem vontade de acordar. Chorar muito e sem motivo “justificável”. Não ter capacidade de fazer aquilo de que você mais gosta, sentindo-se incapaz, inapto. Ter maus pensamentos e perder a vontade de viver. Alimentar senso de culpa por coisas sem importância, bem como a sensação de fracasso. Viver trancado dentro de si, em meio a sombras que insistem em pairar sobre a cabeça. Na verdade, não mais viver, apenas existir. E chegar ao ponto de nutrir pensamentos suicidas.
A depressão é um grande transtorno moderno no que diz respeito à saúde mental. É o mal que encabeça as consultas psiquiátricas e de psicologia clínica. E cresce cada vez mais: estima-se que a depressão ocupará o segundo lugar entre as causas de doenças e incapacidade no mundo no ano de 2020, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares.
Com suas correspondentes variações, a depressão afeta crianças, jovens, adultos e idosos; homens e mulheres; pessoas de todas as classes; ricos e pobres. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que há mais de cem milhões de pessoas deprimidas no mundo.
Sofrer um grande desgosto, ter excessiva preocupação ou se sentir estressado pelo excesso de trabalho não significa necessariamente estar com depressão. Entretanto, essas alterações emocionais podem ser o início dela, e é necessário estar atento para que não se prolonguem demasiadamente.
Os sintomas da depressão são vários, e o diagnóstico não é confirmado como tal até que apareçam cinco deles de forma regular no período de duas semanas e, ao menos, um dos sintomas deve ser a tristeza ou a perda de interesse ou prazer. Entretanto, o surgimento de apenas um deve servir de alerta para se tomar uma providência antes que a solução se torne mais difícil.
Como prevenir a depressão
Busque suficiente apoio social – A depressão é pouco frequente nos círculos em que há fortes laços de relacionamento, quer seja conjugal, familiar, de trabalho ou de amizades. Portanto, é importante fazer parte de uma família feliz, estar rodeado de bons amigos, ter bom ambiente de trabalho, pois essas coisas são salvaguardas contra a depressão. (Ok. Você até já sabe disso. Talvez não saiba como alcançar isso. Continue lendo este artigo, por favor.)
Mantenha uma vida ativa – É surpreendente como o estado de ânimo debilitado pode mudar rapidamente ao se ocupar com alguma atividade. Para evitar a depressão, tome uma atitude e atue de alguma forma. Talvez seja difícil fazer uma visita a um amigo ou entregar um recado, mas isso só no princípio. Uma vez iniciada a atividade, você verificará que é fácil continuar. Ocupe-se com tarefas que lhe causem satisfação e que sejam produtivas e edificantes: coloque em ordem sua casa, conserte alguma coisa, faça algumas chamadas telefônicas interessantes. Se puder, pratique esporte ou exercício físico aeróbico. A fadiga, nesse caso, é fonte de saúde e bom humor. Até a alimentação pode ajudar.
Pense corretamente – Conforme as pessoas se centralizam no aspecto sombrio ou no lado positivo das coisas, têm maior ou menor propensão para a depressão. Pensar é um hábito como qualquer outro e deve ser cultivado para evitar a análise negativa das situações.
Olhe para o passado com prudência – O passado pode ser fonte de depressão e também de bem-estar emocional. Em lugar de pensar nas adversidades do passado, alegre-se com os tempos e acontecimentos felizes. Se existe algum trauma do passado (abuso sexual, catástrofe natural, etc.), procure um psicólogo ou psiquiatra, em vez de cair no negativismo ou na irresponsabilidade.
Além de poder ser causada por uma vida em não conformidade com os planos de Deus ou pela frustração alimentada por fantasias, depressão pode ser também considerada “excesso de passado”. (…)
Como vencer a depressão
O tratamento da depressão é realizado de duas formas: por meio da farmacologia e da psicoterapia. (…)
No tratamento de êxito deve ser incluída a reestruturação cognitiva (do pensamento), uma vez que a depressão fortalece pensamentos negativos sobre a própria pessoa, no ambiente e no futuro. Portanto, evite todo pensamento de inferioridade e autocomiseração. Pense que grande parte de seu êxito depende do que você se propõe a fazer e que pode contar com qualidades e capacidades pessoais de muito valor.
Na avaliação do ambiente, não se concentre nas imperfeições e nos perigos, mas nas coisas belas da vida e nos acontecimentos agradáveis. Certamente, há muitas coisas boas em que pensar. E se houver coisas negativas, faça alguma coisa para suportar em vez de ficar se lamentando. (…)
Apoio familiar – O tratamento profissional ganha muito se a família oferece apoio ao deprimido. É de vital importância que, se o cônjuge, filho ou algum outro membro da família sofre de depressão, o problema seja encarado seriamente e que esta orientação seja seguida:
• Ouça-o com atenção e simpatia, pois isso por si só já produz efeito terapêutico.
• Nunca censure a pessoa, mas trate-a com calma e naturalidade.
• Ajude seu familiar a se manter ocupado. Passeios, entretenimentos, pequenos trabalhos, etc.
• Anime a pessoa a nutrir a esperança de que sairá da depressão com dignidade.
• Apoie o tratamento médico, lembrando a importância de o paciente tomar os medicamentos. Evite também transmitir dúvidas, como: “Para que servem esses comprimidos?” “Por que você precisa ir ao psiquiatra, você não está louco?!” Se você tem dúvida do tratamento, fale com o médico e não com o paciente.
• Pode-se esperar uma grande aflição, especialmente se a pessoa piora e começa a dizer que não vale a pena viver e que gostaria de morrer.
• Vigie para que ela se alimente adequadamente e não faça uso do álcool.
Faça algo pelos outros – O depressivo é levado a pensar que já está satisfeito com o que tem, e que pode prestar ajuda a outros. Realmente, isso oferece novo ânimo e tem ação terapêutica. Experimente cuidar do filho de um amigo, fazer compras para uma pessoa idosa, visitar alguém hospitalizado, ou fazer pequenos trabalhos voluntários. Agindo assim, você esquecerá seu próprio sofrimento e perceberá que existe gente com maiores necessidades. Ajudar outras pessoas é uma forma de ajudar a você mesmo. (…)
Explique os fracassos com realismo – Seja consciente de seus pontos fortes e fracos e analise as situações de forma equilibrada. Por exemplo, se você não teve êxito em uma solicitação de emprego, não pense que é inútil, mas observe se existe muita dificuldade ou se os candidatos são muitos, e, da próxima vez, procure se preparar melhor para uma função almejada.
Assuma o controle dos acontecimentos futuros – Se a origem de seus problemas é, por exemplo, familiar, não pense que não há mais solução para os relacionamentos. Você pode fazer algo para melhorar sua maneira de se comunicar e esquecer as pretensões puramente egoístas. Essas são maneiras reais para melhorar o futuro.
Terapia divina – Ter fé (ou crer) em Deus como um Ser disposto a ajudar, proteger, facilitar e favorecer aqueles que O procuram é o primeiro passo para se beneficiar da espiritualidade. Essa convicção produz um relacionamento com a Divindade que inspira paz interior. É o mesmo sentimento de um pequeno menino que vai de mão dada com seu pai por um caminho pedregoso; não tem medo porque sente segurança em uma mão forte. Da mesma forma, no caminho da vida, a pessoa que confia em Deus sabe que há riscos de todo tipo, mas sua fé no Criador a faz olhar para o futuro com serenidade, porque tem certeza de que seu Pai Celestial a protegerá.
Ajudas específicas no caminho da vida incluem: a oração a Deus, como falar a um amigo com quem se compartilha as aflições; e a leitura da Bíblia, com suas histórias e mensagens que trazem paz interior. Selecione alguns textos curtos e tente memorizá-los para se lembrar deles em situações de crise. Finalmente, procure se aproximar de pessoas que compartilham desses ideais. Essa associação poderá servir como fonte de apoio para melhorar sua confiança em um Ser superior.
Em um estudo realizado na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, referente ao terremoto que abalou a cidade em 1989, ficou claro que as pessoas que usaram um sistema de apoio social para combater as sequelas psicológicas do terremoto conservavam níveis mínimos de depressão e ansiedade. No entanto, as que haviam se isolado para pensar em seu destino infeliz atingiram níveis elevados de depressão. Isso se verificou não somente nos dias seguintes ao terremoto, mas também sete semanas após a catástrofe.
Se você costuma se isolar e pensar demasiadamente em suas angústias, mude de atitude, ou estará se aproximando rapidamente da depressão. Em troca, é recomendável que tenha um amigo e confidente a quem possa contar suas ansiedades.
Não culpe o passado e ajude-se
Os acontecimentos passados são muito importantes para explicar o mundo psíquico da pessoa, mas não têm que ser determinantes da saúde mental. É preciso aceitar o passado (que não pode ser mudado) e evitar a passividade de não fazer nada para melhorar, porque, “afinal, meu passado me predestina”, “sou assim porque tive uma infância conturbada”, “tenho esse problema porque meus pais não souberam me educar”. Essa atitude compromete o processo de restabelecimento e bloqueia muitas fontes de ajuda e apoio.
Mesmo que a depressão costume requerer a intervenção médica e psicológica, as estratégias de autoajuda sempre são de grande benefício para apoiar o tratamento e a prevenção. Veja algumas dicas oportunas:
• Conte com um amigo ou confidente. Procure alguém que tenha apreço por você e o compreenda para conversar de modo natural. Meditar sozinho sobre seus problemas é a pior atividade para o depressivo.
• Mantenha-se ocupado. Saia até a rua, ao ar livre, faça algum esporte. Ou, se preferir, fique em casa fazendo alguma atividade manual caseira. As atividades não permitirão que sua mente se ocupe com pensamentos que fortaleçam a depressão.
• Evite o álcool. É costume geral “afogar as tristezas no álcool”. Mas não se engane. Essa substância pode aliviar os sintomas apenas por algumas horas, como uma barreira de ajuda psicológica, sem considerar, no entanto, a ruína que causa à saúde física. É importante lembrar que o álcool desencadeia uma resposta estilo “bola de neve”. O etanol “deprime” de uma forma geral a atividade dos neurônios cerebrais, tanto os que acompanham circuitos responsáveis pelo autocontrole, quanto aqueles que podem ajudar a pessoa a ter uma atitude positiva. A euforia do álcool é uma situação efêmera, seguida por uma sensação de inadequação, de culpa e inutilidade. A mesma sensação se dá com o uso da maconha, que recentemente foi associada com maior nível de procrastinação para homens e pânico para mulheres.²
• Mantenha uma dieta saudável. Coma verduras, frutas frescas, cereais e legumes. Se não tem esse costume, será um pouco difícil no início, mas depois acostumará.
• Previna-se da insônia. Faça exercício físico, tome uma refeição leve e evite os pensamentos que lhe causem preocupação. Se algum dia tiver dificuldade para dormir, não fique impaciente. Acomode-se num sofá e leia um livro, ou escute o rádio até que consiga dormir.
• Pense nas coisas boas. Concentre-se naquilo que traz satisfação e tenha certeza de que toda a calamidade terá seu fim. Além disso, temos muitas coisas para agradecer e devem ser motivo de nossa frequente lembrança.
• Assuma atitude esperançosa. A esperança é uma necessidade humana. Sem ela, surgem a dúvida, o medo e a ansiedade, fatores relacionados com a depressão. Os que têm esperança no futuro e relacionamento com um Deus paterno e amoroso possuem uma poderosa arma contra a depressão. (…)
“O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido” (Salmo 34:18), e está disposto a perdoar todos os nossos pecados, oferecendo-nos vida eterna, tudo teria outro sentido para ele.
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Fonte: O Poder da Esperança, pgs. 23, 24, 26, 28-31 e 34.
2 J Clin Exp Neuropsychol. 2016 Nov 23:1-13. [Epub ahead of print] “Cannabis, alcohol use, psychological distress, and decision-making style.”