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Jesus, Paulo e o Sábado

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Algumas pessoas argumentam que Jesus e o apóstolo Paulo guardavam o Sábado porque eles eram judeus. Contudo, o Senhor não guardou o Sábado só “porque era judeu” ou para “agradar judeus”.

Algumas pessoas argumentam que Jesus e o apóstolo Paulo guardavam o Sábado porque eles eram judeus. Contudo, o Senhor não guardou o Sábado só “porque era judeu” ou para “agradar judeus”. Ao estudarmos detidamente sobre o tema, veremos que o objetivo de Cristo ao guardar este dia era o fato deste “ser um mandamento de Deus”, dado no princípio, antes de haver o pecado (João 15:10; Gênesis 2:1-3) e Ele O fazia motivado pelo amor a Deus. O mesmo devemos fazer: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15). Outro fator que leva-nos a crer que Jesus não guardou o sábado para agradar aos judeus é o fato de o Sábado existir antes dos judeus. Quando Deus estabeleceu o dia de repouso (Jesus estava presente na criação – João 1:1-3), não havia judeus na face da terra, mas apenas Adão e Eva (Gênesis 2:1-3). Não podemos supor de forma alguma que enquanto Deus “descansava”, ou seja, “cessava suas atividades” no Sábado, Adão e Eva trabalhavam). Isto indica que o sábado é “do Senhor” (Êxodo 20:10) e não “dos judeus”.

Jesus guardou o sábado a fim de obedecer ao mandamento divino; o fez a fim de celebrar a criação de Deus, pois sabia que este é um memorial do Criador. Ele ensinou enquanto esteve na terra a guardá-lo do modo correto e não da maneira fanática e extremista dos fariseus. Com isto, não podemos dizer que Jesus guardava o mandamento para agradar judeus (Seus embates com os fariseus mostram o contrário), sendo que muitas de suas discussões com os fariseus giravam em torno da maneira como este dia era observado. Se Cristo tivesse o intuito de agradar os líderes da época, teria cedido às pressões farisaicas para que observasse o Sábado a seu modo. Como diz A. B. Christianini, “Não foi com objetivo de agradar judeus, porque os desagradou bastante, a ponto de ser expulso da sinagoga e da cidade. Queriam atirá-lo ao precipício”1

Outra forte evidência encontra-se em Lucas 4:16 (veja também o verso 31): “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.”. Ele ensinava neste dia “no poder do Espírito” (verso 14). Quero analisar com o irmão três palavras sublinhadas no texto, levando-se em conta a língua original em que foram escritas (grego): “segundo”, “seu” e “costume”. As informações a seguir extraí do Léxico Grego de Strong.

“Segundo” – grego kata (kata). Significados: 1) abaixo de, por toda parte; 2) de acordo com, com respeito a, ao longo de.

“Seu” – grego autov (autos). Significados: 1) ele próprio, ela mesma, eles mesmos, de si mesmo. 2) ele, ela, isto; 3) o mesmo.

“Costume”– grego eiothos (etho). Significados: 1) estar acostumado, habituado; 2) aquilo que é hábito; 3) uso, costume.

Assim, é impossível, de acordo com o original, apoiarmos a ideia de que Cristo guardava o Sábado por ser judeu ou por querer “agradar” tal povo. O termo “seu” no grego indica que o “costume” (hábito) era de si mesmo. Lucas 4:16 poderia perfeitamente ser traduzido da seguinte forma: “… Jesus, de acordo com o seu próprio hábito, entrou num Sábado na sinagoga…”.

Interessante é que tais expressões aparecem também em Atos 17:2. Isto indica, sem margem para dúvidas, que também o apóstolo Paulo guardava o sábado por sua própria convicção! Aliado a isto está o fato de que em Atos 16:13 temos um episódio em que Paulo guardou o sábado ao ar livre, em um lugar tranquilo, longe das sinagogas e em um país estranho. Ora, se ele quisesse santificar o sábado apenas para agradar aos judeus, então por que o fez em uma província Romana? Tal é uma prova fortíssima de que Paulo não guardou o sábado nessa cidade só porque ali havia mulheres judias; o fez também porque é um dos mandamentos de Deus. Destaco também o fato de grandes comentaristas afirmarem que o mais provável era que Lídia não era de origem judaica, mas uma gentia convertida ao judaísmo (o termo “temia a Deus” [original] em Atos é usado para referir-se aos gentios que, como Cornélio, haviam aceitado o judaísmo e adoravam a Deus [prosélitos]). Billy Graham, grande pregador Batista, é sincero em afirmar que este texto (Atos 16:13) é um dos “pontos fortes dos Adventistas em favor do sábado”.

O evento registrado em Atos 13:42-44, ocorrido (aproximadamente) 45 anos após a cruz, indica que mesmo após a morte do Salvador, o sábado vigorou. Lembremos que nesta reunião “não estavam apenas judeus”, mas também gentios e prosélitos. Ótima oportunidade para ensinar (ou pelo menos introduzir o assunto) que o dia de repouso não mais vigorava. Do mesmo modo, Atos 18:3-4 e 11 é muito esclarecedor. Paulo, “segundo seu costume” (Atos 17:2 – já vimos o significado do termo seu no grego), após uma semana de trabalho, discorria com seus ouvintes, judeus e gregos acerca das Escrituras. Ele ficou nesta cidade (Corinto) um ano e seis meses, o que indica que ele teve tempo suficiente para ensinar ao povo que o dia de repouso “havia mudado”. Entretanto, ele não fez isto. Muito pelo contrário: durante este período, guardou nada menos que 78 sábados. Será que isto não nos diz nada?

Após estas evidências, a única conclusão a que podemos chegar é a de que, muito mais do que apenas manter contato com os judeus na sinagoga, o apóstolo Paulo observava o preceito porque “tinha prazer na lei de Deus” (Romanos 7:22) por considerá-la “santa, justa e boa” (Romanos 7:12) e porque amava seguir o exemplo de seu salvador (1 João 2:6; Gálatas 2:20; Lucas 4:16). O apóstolo guardou o Sábado por toda a sua vida (Atos 25:8). Nunca foi contra a lei de Deus, mas sim oponente a um sistema religioso que considerava a lei um meio de salvação (1 Timóteo 1:8) Vemos isto também em Gálatas e Romanos. Lendo os capítulos 7 e 8 deste último livro podemos ver que nós estamos livres é do pecado e não da lei. Quando o apóstolo afirma que “Morremos para a lei” [Romanos 7:4] o faz no sentido de que não dependemos dela para ser salvos. (Compare com Romanos 6:14, 7:25, 3:31, 6:15).

Cabe a ressalva de que o apóstolo não considerou a lei de Deus como sendo “ministério da morte gravado em pedras” (2 Coríntios 3:7), “ministério da condenação” (2 Coríntios 3:9) e transitória (2 Coríntios 3:13), pois lei não é sinônimo de ministério. “Ministério da morte” ou “ministério da condenação” refere-se à antiga ministração da lei, ou seja, os meios como era ensinada e aplicada. O que foi “abolido” no verso 14 é o “antigo concerto”. A palavra grega que aparece no verso é diatheke (concerto, acordo) e não nomos (lei). Conquanto o decálogo fizesse parte do antigo concerto2, o mesmo possuía existência independente e, portanto, não cessou juntamente com a antiga aliança (mesmo sendo salvos pela graça não deixamos de guardar os mandamentos, entre eles: “não roubarás’, “não dirás falso testemunho”). Prova disto encontramos no fato de, sob o Novo Concerto, a lei ser “escrita no coração” daquele que segue a Cristo (Jeremias 31:33, Hebreus 8:10).

O Sábado é uma das únicas instituições (a outra é o casamento) que ainda possuímos de um mundo sem pecado. Não o tiremos de nossa experiência.
Equipe Biblia.com.br
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1 A.B. Christianini, Sutilezas do Erro (2ª Edição Revista e Ampliada), p. 187.
2 Em algumas ocasiões a Bíblia chama a lei de Aliança (ver, por exemplo, Dt 4:13). Isto ocorre não porque a lei em si é o antigo concerto, mas porque possuía uma íntima relação com ele. Porém, possui existência própria, existiu antes do antigo concerto ter sido estabelecido. A fim de entender melhor esta forma bíblica de expressão, compare Deuteronômio 4:13 com o cap. 9:21.
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