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A lei em Gálatas

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Os judeus não compreenderam o papel da Lei. Primeiro, achavam que podiam guardá-la por seus próprios esforços. Segundo, pensavam que, por guardá-la, teriam méritos para a salvação. A Lei mostrava o ideal de Deus para a conduta humana.

Pr. Ozeas Caldas Moura
Doutor em Teologia Bíblica

Gálatas 3:10 diz: “Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las.” De início, analisemos as duas frases-chave do texto: “obras da lei” e “sob maldição”: “Obras da lei “: Obras é tradução do vocábulo grego érgon, e significa: negócio, serviço, ato, ação, algo feito. Lei, do grego nomos,significa: costume, lei, preceito, leis mosaicas, o Pentateuco e os livros do Antigo Testamento. A ‘lei’ era o título que geralmente aplicavam os judeus dos dias do Novo Testamento aos escritos de Moisés (Lucas 24:44). Essa referência talvez seja ao livro do Deuteronômio em particular, que, às vezes, era chamado de ‘livro da lei”‘ (Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia, Vol. 6, pág. 953). “Sob maldição”: O contrário de Gálatas 3:9, onde “os da fé” é que “são abençoados.” Aqueles que dependem das obras da lei não podem compartilhar a bênção, porque eles estão sob a maldição do que ‘está escrito.’

PERFEITA obediência é requerida pelas palavras: ‘em todas as coisas! e CONTÍNUA obediência, pela palavra ‘permanece! Homem nenhum pode prestar essa obediência (Romanos 3:19, 20). (Comentário de Jamieson, Fausset e Brown). A palavra “maldição” em Gálatas 3:10, é katára, e significa: “execração”, “imprecação” “maldição’! A citação de Deuteronômio 27:26, que aparece em Gálatas 3:10 é tirada da Septuaginta ou LXX (Paulo mudou somente o vocábulo “palavras” – lógois, da LXX, para “[coisas] escritas” – gegramménois). Ao citar Deuteronômio 27:26, Paulo tinha em mente as maldições pronunciadas no Monte Ebal (Deuteronômio 27:15-26 e 28:15-68).

Os judeus tentaram escapar a essas maldições esforçando-se para observar cada detalhe das leis que receberam (moral, cerimonial e civil – esta última não é fator de discussão aqui, em Gálatas 3:10). Mas, na melhor das hipóteses, conseguiam somente uma justiça legal, não a verdadeira justificação diante de Deus, que é alcançada somente pela fé nos méritos de Cristo (Gálatas 2:16). Gálatas 3:10 deve ser analisado no contexto geral da Epístola aos Gálatas, que trata da luta de Paulo contra os chamados “judaizantes’! Estes eram judeus-cristãos que pregavam a guarda da Lei, incluindo a Cerimonial, e também a prática da Circuncisão (Gálatas 5:2, 3, 6,11; 6:12,13,15), como necessárias à justificação diante de Deus. Paulo se refere a eles como “falsos irmãos” (2:4), pois pregavam o evangelho além do que Paulo já havia pregado (1:8,9). Enquanto Paulo ensinava que a justificação e salvação são pela graça de Cristo (1:6), mediante a fé (2:16) – fé que leva à prática dos mandamentos: Gálatas 5:19-21 e 24 – esses judaizantes enfatizavam a justificação pela prática de normas e costumes.

É nesse contexto que Gálatas 3:10 deve ser entendido. Paulo está falando aí que, se alguém pretende ser justo e merecedor do Céu pelas “obras da lei” está “debaixo de maldição” porque todos pecam, pois a vontade de fazer o bem encontra “outra lei” que impele a pessoa a fazer o mal (Romanos 7:22 e 23),chamada de “lei do pecado” (Romanos 7:23 e 25). É verdade que Paulo, ao falar da Lei, afirmou que “Qualquer que observar os seus preceitos por eles viverá” (Gálatas 3:12). Acontece que, sem a graça de Cristo, ninguém consegue isso. Quando alguém peca está “debaixo da maldição” ou “condenação da Lei” Esse é seu papel: condenar, apontando os pecados (Romanos 3:19 e 20). E, ao se sentir condenado, deve o pecador ir a Cristo, que perdoa, justifica e dá poder para obedecer a Lei, por amor (João 14:15).

Os judeus não compreenderam o papel da Lei. Primeiro, achavam que podiam guardá-la por seus próprios esforços. Segundo, pensavam que, por guardá-la, teriam méritos para a salvação. A Lei mostrava o ideal de Deus para a conduta humana. Mas entre esse ideal divino e nossa pecaminosidade está um grande abismo, só transposto pela graça de Deus, que nos habilita a obedecer por amor (“O amor de Cristo nos constrange’! 2 Coríntios 5:14). É verdade que é “maldito todo aquele não permanece em todas as coisas escritas no Livro da Lei, para praticá-las.” Nesse sentido, todos são “malditos” pois todos pecam (“Não há justo, nem um sequer” Romanos 3:10). Mas aí entra Deus que, através do sacrifício e justiça de Cristo, “nos resgata da maldição [condenação] da lei” (Gálatas 3:13) e nos concede poder para obedecê-la, por amor. Deve-se lembrar ainda que se a justificação fosse “por obras da lei” jamais a alcançaríamos, pois mesmo nossas boas obras são imperfeitas, visto que são praticadas por pessoas imperfeitas. Se nossa “justiça” é comparada a “trapo da imundícia” (Isaías 64:6), imagine a nossa “injustiça”! Mas, graças a Deus por Cristo Jesus, que “Se tornou justiça por nós” (1 Coríntios 1:30). E como somos aceitos e justificados pelos méritos de Cristo, e não pelos nossos, podemos confiantemente exclamar: Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).

Equipe Biblia.com.br

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