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Ciência e religião combinam?

É fato que há religiosos que odeiam a ciência e cientistas que odeiam a religião. Seria esse o melhor caminho? Afinal, existem muitos religiosos que também são cientistas!

O famoso químico ateu, Peter Atkins, ex-professor de Oxford, declarou certa vez que “ciência e religião são coisas quase completamente incompatíveis”. Outros mais radicais diriam “completamente incompatíveis”. Será? A quem deveríamos dar mais crédito: ao pregador no púlpito ou ao cientista no laboratório?

Existem três maneiras de resolver a questão:

1 – Assumir que as duas jamais se conciliam, pois a ciência é baseada em fatos e evidências, enquanto a religião é baseada na fé e na ignorância.

2 – Assumir que elas se conciliam desde que cada uma fique na sua área sem uma dar palpite na área da outra.

3 – Assumir que a verdadeira religião não conflitará nunca com a verdadeira ciência, pelo contrário, ambas serão complementares.

Antes de optar por uma destas respostas alternativas, é bom que você saiba que a ideia de conflito entre ciência e religião é uma invenção relativamente recente. Desde que a humanidade inventou a escrita, já se passaram aproximadamente mais de 5 mil anos de história. Em todo esse período, a maioria absoluta dos estudiosos da natureza estava em paz com Deus e não via problemas em enxergar na natureza a ação de uma divindade.

Mesmo quando nasceu a chamada ciência moderna no século 16, ela ainda andava de mãos dadas com o Criador. Foi somente a partir de 1860 que pequenos grupos de cientistas, liderados por Thomas H. Huxley, organizaram-se com o propósito de acabar com domínio cultural do cristianismo, especialmente na Inglaterra.

Quer um exemplo? Você já ouviu contarem como Colombo teve de convencer os monarcas espanhóis de que ele não cairia no abismo se navegasse continuamente para o horizonte? Isso sempre soou como uma boa história, mas hoje os historiadores reconhecem que isso é um mito. Tal coisa nunca aconteceu.

E quem criou ou pelo menos popularizou essa fantasia foram justamente dois autores, John Draper e Andrew White, cujo propósito era desacreditar a religião para as pessoas. Eles afirmavam que os cientistas diziam que a terra era redonda, enquanto teólogos ensinavam que era quadrada. White, diga-se de passagem, fundou a universidade de Cornell, uma das primeiras instituições seculares de ensino da América.

Milênios antes de toda essa polêmica de ciências versus religião, homens religiosos já investigavam a natureza de um modo científico. Sacerdotes egípcios, chineses e babilônios desenvolveram tremendamente a matemática e a astronomia. É claro que eles não utilizavam o método científico, que seria sistematizado somente na modernidade. Contudo, ninguém pode negar o avanço que fizeram em descobrir importantes leis da natureza. Além disso, o próprio método científico se deveu ao trabalho pioneiro de religiosos islâmicos e posteriormente cristãos. A história confirma isso.

Aquela que chamamos de ciência moderna surgiu com a revolução intelectual ocorrida na Europa, a partir do século 16, e que mudou os modos de compreensão do mundo ocidental. As raízes dessa revolução, é claro, recuam a acontecimentos importantes que marcaram a transição da Idade Média para a Modernidade, especialmente o Renascimento, que tinha como principal conceito o racionalismo. Essa nova maneira de ver o mundo se tornou um desafio não necessariamente para a fé, mas para uma forma deturpada de religião da época que trocava até mesmo os ensinos da Bíblia por explicações dogmáticas de líderes da Igreja.

Tanto os clérigos, quanto a nobreza, valiam-se de tradições humanas e crendices que não tinham sentido lógico. Deixavam de lado os princípios bíblicos. O resultado foi um período de profundas trevas morais, espirituais e culturais para toda a Europa.

Existe hoje uma tendência de se questionar o negativismo em relação aos tempos medievais. Em 1908, o cientista e filósofo Pierre Duhem escreveu um tratado sobre a história da teoria física desde Platão até Copérnico. Na obra, Duhem mostra que, em todos os tempos, mesmo na Idade Média, houve homens que trabalharam diretamente com a ciência.

Isso é verdade, como também é verdade que sempre houve pessoas sinceras pregando a Bíblia, mesmo com o perigo de serem mortas por estarem contrariando as leis da igreja que proibiam aos leigos o contato direto com a Palavra de Deus.

Portanto, o que houve ali não foi um conflito entre fé e razão, mas a disputa de dois grupos religiosos: um majoritário que praticava abusos em nome de Deus e outro minoritário que defendia o direito racional humano! A inspiração do primeiro eram os dogmas e, do segundo, a Bíblia Sagrada. Foi exatamente desse segundo grupo que surgiram os pioneiros da ciência moderna.

Os pais da ciência despertaram seu intelecto porque ao olharem para a natureza entenderam que haveria outro modo de explicar a realidade, distinto do dogma. Mas nenhum deles deixou de crer num criador do universo. Viveram e morreram como verdadeiros homens de fé.

Aliás, foi graças à Bíblia e aos escritos de Aristóteles que esses homens começaram a lançar os fundamentos da ciência moderna. Seu desafio, repetimos, não era contra a Escritura Sagrada, mas contra as distorções da mensagem que ela apresentava.

Eles sabiam que a Bíblia não era um livro de ciências no sentido moderno da palavra. Contudo, não escondiam sua convicção de que seria a legítima Palavra de Deus.

É fato que há religiosos que odeiam a ciência e cientistas que odeiam a religião. Mas esse não parece ser o melhor caminho. Afinal, existem muitos religiosos que também são cientistas!

Tanto a religião quanto a ciência são tentativas humanas de encontrar respostas acerca da nossa própria existência. E Deus dá essas respostas, primeiramente pela Bíblia Sagrada, mas também através da natureza. Não todas as respostas, pois sempre haverá de ambos os lados, espaço para dúvidas, mistérios e novas descobertas.

Sem a orientação do Espírito de Deus, o estudo da Bíblia vira heresia e o estudo da natureza vira ateísmo. Mas sob a iluminação divina, ambos os estudos se conciliam. A diferença está apenas na linguagem que a ciência e a religião se expressam. A ideia é a mesma, apenas o jeito de expressar que não será exatamente igual.

 

Equipe Biblia.com.br

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*Graduado em Teologia, pós-graduação em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção (1999), mestrado em Teologia Histórica pelo Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus – atual Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE (1996). Especialização em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém (1998). Doutorado em Teologia Bíblica pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. Assunção – atualmente vinculada à PUC SP (2001). Estudos pós doutorais com concentração em arqueologia bíblica pela Andrews University, EUA (2008). Doutor em arqueologia clássica pela Universidade de São Paulo. É professor de Teologia e Arqueologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo – Campus Engenheiro Coelho, SP (UNASP-ec), curador do Museu Paulo Bork de Arqueologia do Oriente Médio.

 

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