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Profecia contra a Síria não se aplica ao cenário atual

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Os textos de Isaías 17 e Jeremias 49 trazem juízos sobre a Síria e sobre Damasco, sua capital. Conheça o contexto histórico da época em que os livros foram escritos.

Dr. Wilson Borba

Os textos de Isaías 17 e Jeremias 49 trazem juízos sobre a Síria e sobre Damasco, sua capital. No entanto, eles se aplicam aos nossos dias?

Para interpretar a Bíblia corretamente é necessário seguir alguns princípios básicos.  (1) Sola Scriptura. Somente a Bíblia é a sua própria intérprete, pois ela é a suprema autoridade em assuntos de doutrina (2 Timóteo 3:16). (2) Prima Scriptura. Ela está acima das tradições humanas (Mateus 15:3, 5); Colossenses 2:8); da ciência humana (1 Timóteo 6:20); das emoções e faculdades mentais humanas (Gênesis 3:1-6); e da natureza (Gênesis 3:17, 18), exigindo que jamais consultemos médiuns espíritas como fonte de conhecimento, mas somente a Deus, em sua Palavra (Isaías 8:18, 20).  (3) Tota Scriptura. Necessitamos das declarações da Bíblia toda para formar um quadro completo sobre determinado assunto (2 Timóteo 3:16). (4) O contexto. Ele envolve os aspectos de tempo, de lugar, de pessoas, ou seja, emissor e receptor da mensagem. Quando se estuda a Bíblia, é preciso considerar que existem dois contextos. O imediato, aqueles versículos ou textos mais próximos do texto em estudo, e contexto mais amplo, que envolve o capítulo, o livro, e talvez o que a Bíblia toda diz sobre o assunto. Tomando em conta os princípios acima mencionados, e os contextos de Isaías 17, e Jeremias 49, com certeza o conflito atual na Síria não tem relação com as profecias mencionadas nestes capítulos.

Qual era o contexto histórico da época em que os livros foram escritos?

Em Isaías 17, encontra-se uma profecia de juízo contra Damasco e Efraim. A Síria, governada por Rezim, e Efraim, isto é, o reino das dez tribos de Israel ao norte, governado por Peca, filho de Remalias, aliaram-se em uma coalizão contra o reino de Judá, ao sul, governado pelo rei Acaz.

A coalização siro-efraimita e sua destruição é mencionada no capítulo 7. O objetivo era colocar o “filho de Tabeal” no trono de Judá (Isaías 7:6). Ocorre que a coalizão não conseguiu seu intento (verso 1), porque Judá ainda andava com Deus. Neste mesmo capítulo, Isaías profetizou a destruição das tribos do norte, o que ocorreu em 722 a.C. A Assíria destruiu as 10 tribos de Israel.

Já o juízo sobre Damasco e a Síria é anunciado no capítulo 17. Por quê? Esta coalizão foi considerada por Deus como um ataque à linhagem do Messias, ou seja, “à casa de Davi” (Isaías 7:2), o que seria um ataque ao plano da redenção.

Assim, Deus introduz a seção de Emanuel do capítulo 7 a 11. Quem é Emanuel? O Senhor Jesus Cristo, o verdadeiro rei prometido da descendência de Davi. Ensina-se nesta seção, até o capítulo 17, que a linhagem de Davi não poderia ser extinta até vir o Messias, o rei vindouro. E todos os que quisessem destruir a linhagem do Messias seriam julgados. A coalizão não deu certo.

O verso 3 do capítulo 17 anuncia que Efraim, o reino de Damasco, e o restante da Síria desapareceriam. Não há dúvida que esta sentença foi contra a coalizão siro-efraimita claramente mencionada neste verso. A Assíria foi contra a Síria em 732 a.C. Já em 722 a.C. foi a vez das 10 tribos de Israel, que também não puderam destruir Judá.

Em Jeremias 49, mais de 100 anos depois da coalização siro-efraimita, vieram os babilônios contra a Síria. Uma leitura desde o início do livro de Jeremias torna claro que ele foi quem profetizou o cativeiro babilônico de Judá, e descreveu as invasões daquele poderoso reino em outras nações vizinhas.

No capítulo 39, é apresentada a invasão de Judá, e nos capítulos seguintes a invasão babilônica em várias nações, inclusive na Síria. Judá apostatara, sacrificando filhos a Moloque, como as nações vizinhas (Jeremias 32:29,34-36).

Um dos outros males era a escravatura (Jeremias 34:8). Logo, seus vizinhos também eram culpados. Finalmente, no capítulo 50, Jeremias profetiza contra os próprios babilônios. Retirar o cumprimento histórico da profecia é peculiar da escatomania dispensacionalista, que através de um divisionismo exacerbado das Escrituras força um Armagedom contra Israel no Oriente Médio. (Para entender mais sobre o assunto, clique aqui).

No entanto, há teólogos que defendem que tal profecia está em curso. A Bíblia respalda esse argumento?

A Bíblia não respalda o argumento deles, porque ela deve ser interpretada por meio do método gramático-histórico, e não futurista ou dispensacionalista. Isto é, suas profecias foram dadas dentro da história, como uma linha de tempo após o vaticínio. Sinceramente, devemos parar de usar a Bíblia como “caixinha de promessas”. Temos de examinar o contexto.

Que riscos existem ao se fazer uma leitura superficial do texto bíblico?

Permita-me contar uma breve história. Dizem que, em certa ocasião, alguém acostumado com a religião tipo “caixinha de promessas” abriu aleatoriamente o Sagrado Livro em busca de uma “revelação”, e encontrou o seguinte verso: “…retirou-se e foi enforcar-se” (Mateus 27:6). Apavorado, pensando que era uma indicação divina para realmente enforcar-se, ele a abriu mais uma vez em busca de outra “revelação”, e leu: “…O que pretendes fazer; faze-o depressa” (João 13:27). Eis alguns dos riscos de uma leitura superficial da Bíblia: analfabetismo bíblico, dispensacionalismo, fanatismo e extremismo.

Para evitar interpretações como essa, como a Bíblia deve ser estudada?

Devemos estudar a Palavra de Deus com reverência, oração, humildade, sinceridade, fidelidade ao contexto, e coração aberto para aprender e obedecer, sem impor às Escrituras preconceitos, ou torcê-las (2 Pedro 3:16-18). Também sugiro alguns materiais de apoio, tais como: Concordância Bíblica; Dicionário Bíblico; Atlas Bíblico; e bons comentários. A este respeito, sugiro o excelente Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, editado pela Casa Publicadora Brasileira.

Equipe Biblia.com.br

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Bacharel em Teologia, tem mestrado e doutorado na mesma área pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Foi professor do Seminário Adventista no Equador, o qual dirigiu, e hoje é docente e diretor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama).

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