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atos dos apóstolos

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Título e Plano. o titulo do livro nos mais antigos MSS é simplesmente Atos, ou ‘Atos dos Apóstolos’. Esta indeterminação é própria da natureza seletiva dos fatos narrados. As primeiras palavras estabelecem a ligação entre o que se lê no Evangelho e o que o livro dos Atos expõe. Não se sabe se a expressão ‘todas as coisas que Jesus fez e ensinou’ quer significar que a intenção do autor era escrever uma continuação da obra de Jesus realizada por meio dos apóstolos. Talvez a frase signifique, na sua simplicidade, ‘o que fez Jesus primeiramente’, sendo a obra dos apóstolos que ele tinha escolhido, distinta da de Jesus. o tema dos Atos vem apontado em 1.8: ‘Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra.’ Este plano, irregularmente traçado, facilmente se reconhece na estrutura da obra. Ao milagre de Pentecoste segue-se o testemunho dos apóstolos e o aumento da igreja, nas três fases – Jerusalém (caps. 2 a 7), Judéia e Samaria (caps. 8 a 12), e até aos confins da terra (caps. 13 a 28). o progresso exterior da igreja acompanha o crescimento interior, especialmente na gradual emancipação do Judaísmo. A terceira fase acha-se quase inteiramente identificada com os trabalhos de S.Paulo. o autor. o testemunho externo desde ireneu é unânime em atribuir a Lucas tanto os Atos como o terceiro Evangelho. É universalmente admitido que a primeira pessoa ‘nós’, no cap. 16, v. 10, significa que as linhas descritivas da viagem são traçadas por um companheiro de Paulo. A única explicação razoável é que em Trôade o autor se juntou a Paulo, acompanhou-o até Filipos, ficando nesta cidade durante a sua ausência, e daí para o futuro andou sempre com o Apóstolo até que este chegou a Roma. Fontes. o ‘documento de viagem’ se nos mostra como sendo as próprias notas de Lucas, completadas com casos de memória e naturais investigações. E com respeito às outras partes do livro podemos supor que Lucas seguiu o método indicado em Lc 1.1 a 4. Devia ter aproveitado com maior descanso a companhia de Paulo em Cesaréia, em Malta, e em Roma, onde, talvez, encontrasse mais tarde o Apóstolo S. Pedro. Tenha havido tal encontro, ou não, é certo que Marcos ‘o intérprete de Pedro’ esteve com ele em Roma (Cl 4.10 – 4.14 – Fm 24) – e podia, sem dúvida, fornecer-lhe boas informações acerca dos primitivos acontecimentos em Jerusalém, dos quais foi centro a casa que sua mãe habitava. Em Cesaréia permaneceu Lucas com Filipe, o evangelista (21.8), e em Jerusalém encontrou-se com Tiago e os anciãos (21.18). Data. As últimas palavras (28.30,31) permitem-nos dizer que a história dos Atos vai até ao ano 62. Têm alguns sustentado que a maneira abrupta como termina o livro indica o limite do conhecimento do escritor, sendo provável que fosse escrito cerca do ano 63. É muito pouco provável que o Evangelho de Lucas fosse escrito antes do ano 70, e o livro dos Atos é posterior. Estas e outras leves indicações de caráter externo e interno, levam-nos a fixar o ano 80, pouco mais ou menos, como sendo a mais provável data. Valor histórico. A impressão geral que recebemos na leitura do livro é a de ser uma narrativa verdadeira, feita por um historiador consciencioso, guiado pelo Espírito Santo. Já, em 1790, Paley traçou no seu livro, Horae Paulinae, ‘as coincidências naturais’ entre os Atos e as epístolas paulinas com argumentos que ainda de forma alguma perderam o seu valor. A suma do que trata o livro é como se segue: i. A primeira parte da história, consagrada inteiramente à igreja de Jerusalém, narra o preenchimento do corpo apostólico (1): a primeira manifestação do Espírito Santo, segundo a promessa (2) e o aumento e prosperidade da igreja, entre amarguras e perturbações de dentro e de fora, até à perseguição e dispersão dos seus membros (3 a 7). Neste período é dada especial proeminência aos primeiros discursos de Pedro, que apresenta o Evangelho como o cumprimento das profecias e a realização completa do ‘pacto feito com os pais’ – e à oração histórica de Estêvão, mostrando que o tratamento da parte de Deus com o antigo povo de israel era progressivo, e que a relação do privilégio religioso com o lugar e circunstâncias exteriores era apenas temporária. ii. Segue-se uma narração sobre o progresso da obra evangelizadora, sendo levado o Evangelho a Samaria, e convertido um prosélito da Etiópia (8) – depois disto, como introdução à história missionária da igreja, dá-se a conversão e a chamada daquele que havia de ser ‘o Apóstolo dos gentios’ (9) – abre-se a porta da fé em Cesaréia aos incircuncisos pela pregação de S.Pedro, e começa a evangelização dos pagãos em Antioquia, onde Paulo exerce primeiramente a sua especial missão (10,11) – e, finalmente, a morte de um e o livramento de outro dos dirigentes da igreja-mãe de Jerusalém, que deixa de ser então o principal assunto da história (12). iii. A terceira parte, que começa com a obra de Antioquia, o grande centro da igreja gentílica, marca outra interposição do Espírito Santo, narrando as viagens de S.Paulo, constituindo elas três grandes circuitos missionários. o Apóstolo, em cada lugar onde evangeliza, dirige-se primeiramente aos judeus, mas é rejeitado e perseguido por eles, ao passo que os gentios acodem a ouvir a Palavra, de forma que numerosas igrejas se fundaram pelo seu ministério nas principais cidades da civilização pagã (13 a 20). Por fim, quando visita Jerusalém em circunstâncias especiais para conciliar os seus compatriotas, ele é atacado, preso, e depois de uma notável série de falas, em que se defende a si próprio e às suas doutrinas, é mandado para a capital do mundo gentílico a fim de ser julgado no tribunal de César. Já em Roma, ele mais uma vez apela para os seus compatriotas, e lembra-lhes a antiga lamentação profética sobre a sua obstinada cegueira, e declara-lhes que a ‘salvação de Deus foi enviada aos gentios. E eles a ouvirão’ (21 a 28). Alguns dos seus numerosos discursos, proferidos nas viagens missionárias, são amostras de argumentação na maneira de dirigir-se a diversas classes de ou