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Olho por olho e dente por dente

deus

Seria esta um lei de incentivo à vingança ou à misericórdia?

William Barclay1

“Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra”. Mateus 5:39

1”Estas palavras não eram senão uma reiteração do ensino do Velho Testamento. É verdade que a regra: ‘olho por olho, e dente por dente’ (Levítico 24:20), era uma providência nas leis dadas por intermédio de Moisés; era, porém, um estatuto civil.”

“Ninguém seria justificado em se vingar a si mesmo; pois tinham as palavras do Senhor: ‘Não digas: vingar-me-ei.’ ‘Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele.’ ‘Quando cair o teu inimigo, não te alegres.’ ‘Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; e se tiver sede, dá-lhe água para beber’  (Provérbios 20:22; 24:29, 17; 25:21, 22).” (MDC, p. 70-71).

“Em Mateus 5:38, Jesus começa citando a lei mais antiga que tenha existido – olho por olho e dente por dente. Esta lei se conhece com o nome latino Lex Talionis, e poderia descrever-lhe como lei da reciprocidade direta. Aparece no Código de Hamurabi, o código de leis mais antigo que se conhece – data dos anos 2285 a 2242 a.C., data do reinado daquele soberano em Babilônia.”

“Essa lei se transformou em parte da ética do Antigo Testamento. Encontramo-la explicitamente pelo menos três vezes, ou seja: ‘Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe’ (Êxodo 21:23-25). ‘Se alguém causar defeito em seu próximo, como ele fez, assim lhe será feito: fratura por fratura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará.’ (Levítico 24:19, 20); ‘Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé.’ (Deuteronômio 19:21). Com frequência se citam estas leis como as mais sangrentas, selvagens e impiedosas disposições do Antigo Testamento; mas antes de começarmos a criticar o Antigo Testamento devemos fazer algumas observações.”

“A Lex Talionis, ou lei da retribuição direta, longe de ser uma disposição selvagem e sanguinária é o princípio da misericórdia. Seu propósito original foi em realidade, a limitação da vingança. A ‘vingança’ e a inimizade de sangue era uma das características da sociedade tribal daqueles tempos. Se um membro de uma tribo matava a um membro de outra tribo, a obrigação de todos os varões membros da segunda tribo era vingar-se em toupeiras os membros varões da primeira, e a vingança procurada não era senão a morte.”

“A lei de talião limita deliberadamente os alcances da vingança. Estabelece que somente deverá ser castigado o responsável pela ferida e que seu castigo não deve ser maior que a ferida que ele infligiu ao outro ofendido. Vista de uma perspectiva histórica esta lei não é selvagem, mas sim uma lei misericordiosa. Além disso, esta lei […]  era aplicada por um juiz mediante um processo legal de caráter público (veja-se Êxodo 18:19).”

“Esta lei nunca teve como propósito dar ao indivíduo, como pessoa particular, o direito de vingar-se pessoalmente. Sempre se tratou de uma norma destinada a guiar um juiz na avaliação da pena que devia aplicar por qualquer ato violento ou injusto. E, o mais importante de tudo, deve lembrar-se que a Lex Talionis não é, de maneira alguma, toda a ética do Antigo Testamento, de modo que no Antigo Testamento encontramos resplendores da mais autêntica misericórdia: ‘Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo.’ (Levítico 19:18); ‘Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; se tiver sede, dá-lhe água para beber.’ (Provérbios 25:21); ‘Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta.’ (Lamentações 3:30). Também no Antigo Testamento abunda a misericórdia. Assim, pois, a lei antiga se apoia no princípio da retribuição direta.”

“É verdade que esta lei era uma lei misericordiosa; é verdade que devia ser aplicada pelo juiz e não ficava entregue ao arbítrio do indivíduo como particular; é verdade que nunca foi aplicada de modo literal; é verdade que ao mesmo tempo ia acompanhada por expressões de uma autêntica misericórdia. Mas Jesus eliminou os próprios fundamentos daquela lei, porque a vingança, por mais controlada e restringida que seja, não tem lugar na vida cristã.”

Equipe Bíblia.com.br

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1 Wiiliam Barclay, Comentário Bíblico de Mateus, p. 178.

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